MUSEU, A CASA DA MEMÓRIA
O museu, em uma cidade, é o sinal que existe ali uma preocupação com a preservação da história. Mas, não é apenas a existência de um prédio, com o nome de museu que vai indicar o grau de cuidado que cada comunidade deve ter com o seu passado. Já disse, em outro artigo, que a presença de um museu e o cuidado que se tem com a sua preservação, é uma demonstração do grau de cultura naquela urbe.
Povo que cuida do seu passado, da sua história, que preserva a sua memória é considerado culto, inteligente, é um povo que tem futuro. Quando viajo, aqui no nosso país ou para o exterior, pouquíssimas vezes, um dos primeiros lugares que procuro ir é o museu, nele encontraremos a história da cidade e do povo.
Mossoró é uma cidade contraditória, cheia de fatos históricos relevantes, desejando ocupar um espaço cultural no estado e até cheia de petulância desejando ser a capital cultural do Brasil, mais do jeito que estar não dá. O poder público municipal não cuida do seu passado, da sua memória, enfim do seu patrimônio histórico. Tem gente que pensa que só com grandes eventos qualifica a cidade como cidade cultural, grave engano, terrível engano, maléfico engano, ruim para o povo e para a cidade.
Mossoró tem tudo para ser o centro histórico e cultural do semi-árido, de ser o guardião das tradições desse povo.
Temos muitas histórias que precisam ser resgatadas e preservadas: o sindicato do garrancho, a luta da classe trabalhadora por melhores condições de vida; o cangaço; o messianismo religioso; a libertação dos escravos, antes da Lei Áurea; o primeiro voto feminino; a resistência das mulheres contra a ida dos seus homens para o alistamento militar; as lutas operárias; a criação do Partido Comunista pela família Reginaldo na década de 20 do século passado, pioneiro no estado; as oligarquias que dominaram a cidade e a região; a presença da Igreja Católica com os seus padres e bispos; os períodos áureos do algodão e do sal; as primeiras Igrejas Evangélicas, na cidade e na região; as fotografias de Manuelito e de outros fotógrafos que registraram a nossa história; tudo isso é tema para o surgimento de um Museu ou de diversos museus.
Às vezes eu fico pensando em convidar alguns amigos que gostam, também, da preservação da memória histórica para irmos às autoridades, ditas competente, reivindicar um tratamento adequado ao Museu Lauro da Escossia. Com Rosalba eu cansei de reclamar, ela não foi sensível a restauração do único museu da cidade.
Já ensaiei chamar Wilson Bezerra, Rubens Coelho, Geraldo Maia, Emanuel Pereira Braz, Raimundo Soares de Brito, Clauder Arcanjo, Nilo Santos, professores de história e outros interessados para fazermos um acampamento enfrente ao velho Museu Lauro da Escóssia com o objetivo de chamar a atenção, do povo e das autoridades para o descaso que se vem praticando com a nossa memória, a nossa história.
Tenho pena da Diretora do Museu, ela fica impotente diante da falta de atenção das autoridades municipais, faz mais de cinco anos que fizeram uma reforma no prédio e até hoje o Museu continua esperando que organizem novamente o seu acervo.
Desse jeito Mossoró nunca será a capital cultural do Rio Grande do Norte, quando mais do Brasil. Não se faz cultura somente com plumas e paetês, com bandas de forró de péssima qualidade, com grandes eventos que não deixam raízes. Cultura é coisa séria é fundamental para uma comunidade. Museu é um equipamento indispensável na avaliação do tipo de valorização que uma cidade dá a cultura.
Os grandes espetáculos são importantes, dentro de um projeto voltado para o incremento do turismo. O museu é um instrumento de valorização cultural, é um equipamento essencial na preservação da memória histórica e das manifestações artístico e cultural de um povo.
NOTA DO BLOG:
O referido texto, de autoria do amigo e professor Antonio Capistrano, foi escrito no período em que ele foi vice-prefeito da atual governadora Rosalba Ciarline, quando a mesma exercia o cargo de prefeita de Mossoró (1997/2004), já no seu terceiro mandato.
Pobre Mossoró!
Um comentário :
Caro Carlos. Quero compartilhar com o texto do amigo Capistrano. Resido próximo ao Museu Lauro da Escóssia e posso afirmar, categoricamente que, é a mais pura realidade o que está escrito por ele. O museu está entregue as baratas, literalmente, com as paredes pichadas e sujas. Parte de objetos que perteceram ao meu avô, Amâncio Leite, encontra-se jogado em meio a muitas outras relíquias que, em breve, o tempo deverá reduzir a pó. Faço minha suas palavras: "Pobre Mossoró". Togo Ferrário.
Postar um comentário