A GRANDE APOSTA
O filme sugere que sim. Anos depois, o investimento apontado como o
grande vilão de 2008, as CDOs, estaria de volta ao mercado, mas agora
com outro nome. É o que diz o filme, citando reportagem da agência de
notícias Bloomberg (URL encurtada para a reportagem, em inglês: http://zip.net/blsWzn).
As CDOs (obrigações de dívida com garantia) eram investimentos formados
por milhares de fatias de dívidas de alto risco (os subprimes, com
muita chance de calote). Quando os devedores não pagaram as dívidas,
quem comprou as CDOs teve perdas bilionárias. Segundo a Bloomberg,
alguns bancos já estão voltando a vender investimentos semelhantes às
CDOs.
A possibilidade de uma nova crise também chama a atenção
de investidores da velha guarda de Wall Street, como Warren Buffet, que participou de reuniões para tentar diminuir a especulação no mercado.
O UOL
ouviu os economistas Rodrigo de Losso Bueno, professor da Universidade
de São Paulo (USP), Carlos Braga, da Fundação Dom Cabral, e Ernesto
Louzado, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para saber se uma crise como a
de 2008 pode mesmo acontecer novamente ou se a mensagem final do filme é
só invenção de Hollywood.
Eles afirmam que o filme tem razão ao
dizer que fatores parecidos com os que estavam na raiz da crise de 2008
estão voltando ao mercado, mas que isso não significa que haja um novo
colapso à vista.
O que voltou?
Dois fatores semelhantes aos responsáveis pela crise de 2008 estão de volta ao mercado, segundo os economistas:
- Investimentos com as mesmas características das CDOs, responsáveis por espalhar a crise pelo mundo em 2008, estão sendo vendidos por bancos, mas foram rebatizados: agora se chamam "bespoke tranche opportunity" (fatia de oportunidade personalizada);
- Empresas e bancos pequenos estão voltando a emprestar dinheiro para quem tem grande risco de dar calote, o antigo "subprime" (de segunda linha). O nome mudou também, para "non-prime".
Agora é diferente?
Apesar de fatores parecidos com os protagonistas da crise estarem de
volta, as chances de colapso são muito menores, segundo os
especialistas, porque os EUA criaram novas leis para regular o mercado
depois de 2008.
- Hoje os grandes bancos têm limite para o quanto podem emprestar, e são obrigados a seguir critérios mais exigentes para conceder empréstimos.
- Os bancos estão "sob o microscópio do governo, por meio do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e das agências reguladoras", afirma Braga.
- As agências de classificação de risco (Standard & Poor's, Fitch e Moody's), criticadas por falharem na crise de 2008, também promoveram mudanças, de acordo com Louzado. "Hoje as análises são mais técnicas, coincidindo com a de analistas independentes, e menos políticas", diz.
Risco de crise sempre existe
Mesmo com as mudanças feitas nos EUA depois de 2008, o mundo não está
livre do risco de uma nova crise financeira, dizem os economistas.
"As pessoas são criativas. O governo faz leis, mas o mercado cria novos
produtos que não estão previstos nas leis", diz Bueno. "Da mesma forma
que há alguns anos ninguém sabia o que os bancos fariam com o
'subprime', não sabemos o que mais o mercado vai inventar."
Braga e Louzado concordam que em algum momento vai acontecer outra
crise, mas não causada pelo mesmo tipo de problema que na crise de 2008.
"O mercado norte-americano gosta do risco", diz Louzado.
"Por
mais seguros que sejam os aviões, acidentes acontecem", compara Bueno.
"A ideia é reduzir a chance de acidente e garantir que ele tenha a menor
magnitude possível, caso venha a acontecer."
Especulação preocupa a velha guarda
A especulação para ganhar mais dinheiro em um prazo cada vez menor vem preocupando a velha guarda de Wall Street.
O megainvestidor Warren Buffett e outros bilionários têm organizado reuniões secretas para tentar reduzir a influência dos fundos de investimento especulativos no mercado, segundo o jornal "Financial Times".
Para esse grupo de bilionários, esses fundos prejudicam o mercado
porque as empresas acabam tomando decisões para agradá-los, mesmo que
sejam prejudicadas no futuro.
Fonte: UOL Economia
Edição de texto: Maria Carolina Abe e Armando Pereira Filho
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