PRODUTIVIDADE É O NOME DO JOGO
É preciso insistir sobre alguns pontos
importantes que estão no bom roteiro proposto pelos ministros Joaquim
Levy, Nelson Barbosa e Armando Monteiro, que busca devolver a
produtividade ao País no médio prazo:
1. O nível de confusão
fiscal de 2014, só agora conhecido, exige uma ação enérgica e
persistente, bem focada e bem orientada, para, num tempo que não será
menor do que dois anos, reconquistarmos um equilíbrio razoável e
estabilizarmos a relação dívida bruta/PIB. Essas são condições
necessárias, ainda que não suficientes, para superarmos o risco da
tragédia que seria o rebaixamento do nosso rating soberano.
2. A austeridade em si
mesma não é suficiente, porque ela, sem a esperança na recuperação da
economia e o efeito “catraca” na inclusão social, brigará com o processo
democrático e não terá sucesso.
3. O esforço para
caminhar para o equilíbrio fiscal precisa, portanto, ser complementado
com reformas estruturais que reduzam os atritos ao desenvolvimento e
aumentem a produtividade da economia. Um bom exemplo seria estimular a
aprovação no Congresso Nacional da sugestão da CUT, que dá poder final à
livre negociação entre trabalhadores e empresários dentro das empresas,
sob a vigilância dos sindicatos. Outra seria insistir na aprovação da
reforma do ICMS, tornando-o mais justo e reconhecendo os incentivos
feitos à revelia do Confaz. É preciso, obviamente, proibir novos
incentivos, ou a renovação dos em vigor. Suspeito que essas duas
reformas escondem o possível ganho de pelo menos 0,5% do PIB em 12
meses. Produtividade é o nome do jogo!
4. É
preciso introjetar o fato de que foi a política de valorização cambial
que transferiu a demanda da produção industrial nacional para a
indústria estrangeira, ampliando o déficit da conta corrente. O gráfico
abaixo mostra isso com clareza. Nele se vê o efeito do câmbio real
(câmbio nominal/salário nominal) defasado de dois anos sobre o saldo
comercial dos produtos manufaturados. As políticas de estímulo ao setor
industrial fracassaram porque a valorização do real estimulava ainda
mais a demanda dos produtos industriais importados.
5.
Não há dúvida de que as dificuldades fiscais, mesmo acompanhadas de
reformas importantes, não favorecerão o investimento público, que é a
grande tarefa do ministro Nelson Barbosa. As crises hídrica e de energia
tornaram mais problemáticos os investimentos privados. Por outro lado,
nem o consumo privado nem o público terão estímulos. Talvez, com uma
política cambial adequada, complementada por uma revisão das tarifas
efetivas e pelo uso inteligente do Banco do Brasil (os olhos e os braços
do governo), seja possível recuperar, com relativa rapidez, parte da
demanda industrial interna perdida para as importações. O problema não é
de oferta, mas de aumento dramático do custo da energia e da incerteza
do suprimento de água. Há capacidade ociosa e sempre é possível um
segundo e até um terceiro turno.
6. É preciso,
finalmente, dar pleno suporte ao ministro Armando Monteiro que
desenvolve um interessante e robusto programa para reduzir o déficit em
conta corrente, e, assim, acelerar o crescimento do PIB. Ele estimula a
exportação, mas não se esquece de que a importação é um fator de
produção essencial para o aumento da produtividade e para a nossa
integração nas cadeias produtivas internacionais. Mesmo bem-sucedido, o
programa não apresentará resultados significativos em menos de dois
anos.
É hora de dar-lhes apoio, ter paciência e trabalhar, em vez de continuar chorando sentado na calçada à espera do terceiro turno!
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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