ANÁLISE: ECONOMIA DE CANDIDATOS
SE PARECEM, MAS É DIFERENTE
NA PRÁTICA
A julgar pelo que têm declarado sobre a economia, os três candidatos à Presidência com mais chance de ganhar parecem iguais.
O cuidado em não tocar em questões impopulares é tanto que todos acabam
defendendo – ao menos publicamente – apenas os objetivos dos quais
ninguém discordaria. É como se os três prometessem a mesma omelete, mas
sem dizer como quebrar os ovos.
Seja em declarações durante a
campanha ou no plano de governo, Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB)
e Aécio Neves (PSDB) defendem o combate à inflação, o controle dos
gastos públicos, a geração de emprego e renda e a política de
valorização do salário mínimo.
Porém, apenas em raros momentos
alguém menciona medidas que seriam impopulares no curto prazo. Uma das
questões que eles menos comentam – que é também uma das mais relevantes
no debate econômico hoje – é a dos gastos públicos. Os três defendem um
controle rigoroso de despesas, mas nenhum explica onde vão cortar gastos
– se na saúde, educação ou em qualquer outra área.
É de se
esperar que seja assim, pois, cada vez que um candidato resolve assumir
posição, ele abre espaço para receber uma avalanche de críticas dos
adversários, que, evidentemente, passam a salientar os pontos negativos
de tal proposta.
Semelhanças e diferenças
Apesar de os
candidatos evitarem falar ao público sobre medidas polêmicas – e com
isso parecerem que defendem as mesmas coisas – quem acompanha o
noticiário econômico sabe que existem várias diferenças entre eles.
De um lado, Dilma deixa claro, com suas medidas, que é mais favorável à intervenção estatal na economia.
Por exemplo, seu governo aumentou a quantidade de empréstimos
subsidiados para empresas, segurou, enquanto pôde, os preços nos quais
consegue pôr a mão (os chamados "preços administrados", como energia e
gasolina), tentou controlar o retorno que os concessionários teriam ao
investir na infraestrutura do país, aumentou, em momentos alternados, as
barreiras para entrada e saída de dinheiro do país, entre outras
medidas intervencionistas.
Ainda, usou uma contabilidade não
convencional (que os críticos apelidaram ironicamente de "contabilidade
criativa") para calcular as contas do governo.
Do outro lado,
tanto Aécio como Marina mostram ser contra essas intervenções. Ambos
defendem, ainda, maior rigor nos três pilares da política econômica
criados durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso: câmbio flutuante,
metas de inflação e o chamado superavit primário (dinheiro que o
governo separa da sua arrecadação para pagar dívida).
Cabe ao
leitor, diante disso, decidir como ele acha que a economia funciona
melhor, se com mais ou com menos intervenções estatais.
Veja a seguir como foram tratados alguns dos temas pelos presidenciáveis.
Independência do Banco Central
Marina defende a independência do Banco Central. Após ela levantar esse
ponto, ficou claro que cada candidato tem um ponto de vista diferente
sobre o tema.
Em entrevista recente à "Folha", a coordenadora da
campanha de Marina, Maria Alice Setubal, conhecida como Neca, disse que
a candidata, até pouco tempo atrás, não era a favor de que a
independência do BC fosse garantida por lei, mas passou a aceitar isso
recentemente.
A partir daí, os demais resolveram expor sua
posição. Dilma disse que é a favor da "autonomia relativa do BC", embora
muitos analistas tenham questionado tal autonomia quando a entidade
baixou a taxa de juros, nos primeiros anos do governo, e permitiu que a
inflação batesse o teto da meta (6,5% ao ano), quando medida em
intervalos de 12 meses.
No caso de Aécio, seu plano de governo
defende a "autonomia operacional" do BC, ou seja, ele quer que a
instituição execute sua política sem intervenções do restante do
governo, mas não menciona a possibilidade de formalizar essa autonomia.
Sobre esse tema, portanto, parece haver um degradé: Dilma quer uma
"autonomia relativa", Aécio prevê uma autonomia operacional, não
necessariamente determinada por lei, e Marina quer uma independência
formal.
Leia algumas frases sobre o tema:
Dilma:
"Sou a favor da autonomia relativa do BC e a pratico. O que estão
propondo é independência do BC. Independência é só dos três poderes. O
quarto poder, que é a independência do BC, é algo extremamente
questionável. " (No "Valor Econômico").
Marina:
"[É preciso] Assegurar a independência do Banco Central o mais rápido
possível, de forma institucional, para que ele possa praticar a política
monetária necessária ao controle da inflação." (No programa de governo).
Aécio:
"[Defendemos] autonomia operacional ao Banco Central, que irá levar a
taxa de inflação à meta de 4,5% ao ano. Uma vez atingida, a meta será
reduzida gradualmente, assim como a banda de flutuação, atualmente em
mais ou menos 2%. O Banco Central deverá também suavizar as flutuações
do ciclo econômico e zelar pela estabilidade financeira." (No plano de governo).
Salário mínimo
Além da questão do BC, outra que gerou polêmica foi a do salário
mínimo. Diversos economistas argumentam que a atual política de reajuste
é insustentável em longo prazo. Dois deles são diretamente ligados a
Marina e a Aécio.
Eduardo Gianetti da Fonseca, espécie de "guru"
de Marina para assuntos de economia, afirmou, em entrevista à "Folha"
no ano passado, que a atual regra de reajuste, baseada no crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto) e na inflação, "não tem o menor sentido".
Ele acrescentou: "Também é complicado reajustar o benefício
previdenciário pelo salário mínimo. Atrelar perpetuamente ao salário
mínimo não faz sentido."
Armínio Fraga, apontado como provável
futuro ministro da Fazenda caso Aécio vença, afirmou, em entrevista ao
portal de "O Estado de São Paulo": "O salário mínimo cresceu muito ao
longo dos anos. [...] Mesmo as lideranças sindicais reconhecem que, no
que diz respeito ao salário em geral, não só o mínimo, é preciso guardar
alguma proporção com a produtividade, sob pena de engessar o mercado de
trabalho".
A declaração mostra que Fraga defende modificar a
atual política de reajuste, que não leva em conta a produtividade.
Adversários, então, aproveitaram para faturar em cima do tema, ao
interpretar que Fraga seria contra aumentos reais do mínimo.
Os
economistas ligados a Aécio e Marina, portanto, vão na linha de
modificar a política de aumento do mínimo, enquanto os dois candidatos
preferem não dizer isso diretamente. Nos seus planos de governo, o
tucano defende "a continuidade dos ganhos reais do salário mínimo",
enquanto Marina promete "valorizar o salário mínimo".
Dilma, por
sua vez, disse não concordar com a ideia de que o aumento do salário
mínimo seja "a raiz da inflação". Para Guido Mantega (Fazenda), "a ideia
equivocada do passado de que aumentar muito o salário mínimo vai causar
desemprego foi negada pelos fatos".
Confira algumas frases sobre o assunto:
Dilma:
"Nós vamos continuar focados em emprego e garantia de salário para a
população. [...] Eu não concordo... que a raiz da inflação é a política
de valorização do salário mínimo." (Na agência de notícias Reuters).
Marina:
"A coligação Unidos pelo Brasil vai [...] valorizar o salário mínimo.
[...] É inegável a redução da pobreza absoluta no país e, em muito menor
escala, da desigualdade medida a partir dos rendimentos do trabalho.
Esse cenário decorreu não exclusivamente de programas sociais. Contaram,
e muito, a aceleração do crescimento econômico entre 2004 e 2008, a
dinâmica do mercado de trabalho e as transferências sociais (Programa
Bolsa Família, Previdência Social atrelada ao salário mínimo e Benefício
de Prestação Continuada)." (No programa de governo).
Aécio:
"Ela [Dilma] disse, dirigindo-se claramente a nós, que não íamos
garantir reajuste real do salário mínimo. Mentiu a senhora candidata a
presidente da República. Mentiu, pois fomos nós, ao lado do
Solidariedade e do Paulinho da Força, que apresentamos projeto que
garante reajuste real do salário mínimo nas bases atuais até 2019." (Na "Folha").
Inflação
O aumento de preços é outro tema importante para estas eleições. Veja a seguir o que disseram oficialmente os presidenciáveis:
Dilma:
"O controle da inflação foi mantido, sempre, como prioridade de nossos
governos, e assim continua. [...] Um dos alicerces desse novo ciclo é o
fortalecimento de uma política macroeconômica sólida, intransigente no
combate à inflação e que proporcione um crescimento econômico e social
robusto e sustentável." (No programa de governo).
Marina:
"Trabalhar com metas de inflação críveis, sem recorrer a controle de
preços que possam gerar resultados artificiais, e criar um cronograma de
convergência da inflação para o centro da meta atual; gerar o superávit
fiscal necessário para assegurar o controle da inflação; manter a taxa
de câmbio livre, sem intervenção do Banco Central, salvo as
ocasionalmente necessárias para eliminar excessos pontuais de
volatilidade." (No programa de governo)
Aécio:
"Iremos adotar o cumprimento inequívoco dos compromissos do tripé macro:
inflação na meta, ou seja, no centro da meta, superávit primário obtido
sem artifícios contábeis e câmbio flutuante. [...] Uma vez atingida, a
meta [de inflação]será reduzida gradualmente, assim como a banda de
flutuação, atualmente em mais ou menos 2%." (No plano de governo)
Emprego e renda
Geração de trabalho e aumento do ganho dos profissionais também mobiliza eleitores. Confira as principais declarações dos candidatos:
Dilma:
"Em todo o período Lula-Dilma, até maio de 2014, o país gerou 20,4
milhões de novos empregos. Enquanto, em todo o mundo, a crise eliminou
60 milhões de empregos, de 2008 até hoje, no Brasil 11 milhões de postos
de trabalho com carteira assinada foram criados. No governo Dilma, até
maio de 2014, foram gerados 5,05 milhões de empregos formais. Desde
2003, a taxa de desemprego declinou até chegar a 4,9% em abril de 2014,
considerada uma situação de pleno emprego. De 2003 até hoje, a renda do
trabalhador cresceu 70% acima da inflação." (No programa de governo)
Marina:
"[Uma] medida com o propósito de aumentar o emprego [...] é a expansão
dos setores com direito a beneficiar-se das mudanças do regime de
contribuição para a Previdência Social, passando do regime de
contribuição de 22% sobre a folha de pagamento para o regime de 2% sobre
o faturamento. [...] Países com sistemas financeiros mais desenvolvidos
tendem a crescer mais, pois um mercado de crédito eficiente [...] gera
possibilidades de financiamento para empresas e indivíduos. [...] Tudo
isso gera emprego e eleva o potencial de crescimento da economia." (No
programa de governo)
Aécio: "A redução da
rotatividade da mão de obra no Brasil e o aumento da sua produtividade
são elementos fundamentais para uma nova política de emprego e renda.
[Nossas] Diretrizes [são]: Fomento à criação de empregos formais de
qualidade, com a garantia de todos os direitos trabalhistas;
continuidade dos ganhos reais do salário mínimo; implementação de
políticas visando à diminuição da rotatividade no emprego; incentivo às
empresas que mantiverem os contratos de trabalho por períodos superiores
às médias do seu setor; [...] estruturação de programas de estímulo ao
aumento da escolaridade do trabalhador; [...] combate permanente ao
trabalho escravo e degradante, bem como ao trabalho infantil."
Fonte: UOL Economia
Silvo Crespo Do UOL, em São Paulo
Silvo Crespo Do UOL, em São Paulo
Foto: Miguel Schincariol/AFP
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