quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Por Marinalva Freire da Silva*


O MENOR CARENTE
 

“A criança de hoje é o homem de amanhã”. Será que os governantes têm consciência disto?- Não creio, e a prova está no grande número de crianças desassistidas, que perambulam pelas ruas. Par que a criança de hoje se transforme no homem de amanhã, faz-se necessário que ela tenha amor, alimentação, educação, saúde. E por que não incluir também um lar?

Infelizmente, há no Brasil, mais de quarenta milhões de menores carentes e, portanto, marginalizados. Estas crianças por não terem ocupação (pois “mente ocupada é mente não tentada”),dedicam-se ao submundo do crime, da violência. Atualmente, elas representam pequenos “monstros” nas grandes metrópoles. Imaginemos como será a situação do Brasil daqui a uns anos, quando estes menores passarem a maiores ou adultos?
 
- Creio que a situação será insustentável. Adianta prendê-los, se não há escolas correcionais no Brasil? Quantos criminosos adultos, em criança, foram postos na FEBEM e sua passagem por aquele recinto “deseducacional” serviu-lhe tão somente para aprimoramento na “arte de delinquir”? Este Órgão foi substituído por outro, mas não vejo com bons olhos esta mudança, pois trocar seis por meia dúzia de nada adianta, é perda de tempo total.

A novidade foi a criação do Código do Menor. E para que serve? Sendo o menor infrator isento de “punição”física por parte das autoridades policiais, que se vêem de mãos atadas sem nada poderem fazer, os maiores o transformam em escudo, o tomam por isca para “aviãozinho”do tráfico, para os furtos e assaltos, ou seja, para a prática da delinquência, o que colabora para o menor especializar-se com grande rapidez nas veredas da criminalidade. A falta de maior atenção das autoridades governamentais aos menores desassistidos está levando a sociedade a “fazer justiça”com as próprias mãos, e o extermínio das crianças de rua é algo muito preocupante porque, afinal, estes menores são, na grande maioria, fruto s de uma sociedade capitalista injusta, egoísta, onde a corrida em  busca do ouro é tamanha;nela, o pobre é cada vez mais pobre e o rico, cada vez mais rico. A política salarial no Brasil é algo muito vergonhoso. O problema da terra nem é bom falar. A Reforma Agrária, uma das soluções para resolver o problema da fome e diminuir a miséria, é assunto dogmático, quando me refiro a este “dogma”, não estou de acordo  com o patrimônio privado seja desrespeitado, em absoluto, os direitos adquiridos são sagrados e devem ser respeitados. Sempre existiu e continuará existindo rico e pobre. Mas a miséria, esta deve ser banida. Todos temos o direito de viver dignamente, alimentação, teto e assistência a saúde. E a miséria nada mais representa do que a ambição, a falta de solidariedade humana, o egoísmo desenfreado.  

Não defendo a delinquência e já fui vítima, como muitas pessoas, de tentativas de abordagem com arma sobre mim. Tive sorte de conseguir conversar com os menores sem ser agredida fisicamente. Mas passamos constantemente por sustos e estamos expostos à violência. Mas não tenho o direito de julgar estes pobres que vivem no submundo, sentindo  pela fome física e de afeto, bem como a falta do calor humano, a falta do outro em sua vida; longe da educação doméstica e escolástica, desumanizam-se e passam a ver em cada um de nós, privilegiados com o que lhes falta, um culpado pelos seu estado de subvida.

Penso que está na hora de sairmos um pouco do nosso invólucro egoísta e compartirmos um pouco que seja do que temos para reduzir tanto a fome como a violência. O curioso é que em se tratando das crianças, geralmente elas evitam de importunar quem as ajuda, lhe dá um pouco de comida.
 
Não podemos pôr toda a responsabilidade apenas sobre os ombros dos governantes que pouco fazem pelos excluídos por nada terem a retribuir, muitas vezes nem eleitores são porque não são cidadãos, não sabem ler nem mesmo assinar o nome, não têm documento de identidade; quando estão já muito conhecidos pelas artimanhas praticadas, mudam de lugar e de nome... E a vida prossegue sem o amanhã,eles mal têm o hoje, mesmo porque o  amanhã é circunstancial, não existe. Existe o ontem que é passado e a única coisa que não passa, e o hoje que já foi o amanhã.

Rousseau argumenta que “o homem não nasce mal, a sociedade é que o corrompe”. Sei apenas que o crack está dominando a as crianças, a juventude brasileira. Urge que algo seja feito e com rapidez se quisermos salvar os jovens, uma missão muito espinhosa, é difícil, sim, mas não impossível. Não adianta construir tantos presídios sem as medidas pedagógicas, sugiro que os governantes, aí sim, depende deles, abram escolas de artífices, com dois turnos, aulas normais, danças, jogos, todos os tipos de atividades físicas para atender o anseio  de cada aluno, informática,atividades agrícolas com pequena bolsa para estimular os alunos e não esta bolsa família que muitas vezes tem outros rumos. É preciso que haja educação sexual, controle á natalidade, aulas de Filosofia, Civismo, Ética, Religião, tudo entrelaçado numa multidisciplinaridade a fim de prepararmos esta criançada e estes jovens, futuros cidadãos para um Brasil melhor.

Conclamem voluntários, conclamem a sociedade para arregaçar as mangas e ir à luta em prol da Paz que todos merecemos. Isto é cidadania, é alteridade, é cristandade, é a prova de amor a Deus que arquitetou este belo Universo e nos entregou para darmos continuidade à Criação, não o fez para a destruição, para isto criou a espécie humana.

Façamos, portanto, alguma coisa para salvar as crianças e os jovens excluídos, aproveitemos a campanha da Fraternidade que lança um olhar para esta massa humana que vegeta nas sarjetas da vida.
*Marinalva Freire da Silva é Docente aposentada da UFPB e Defensora dos Direitos Humanos.

Enviado por José Romero Araújo Cardoso


Nenhum comentário :