CRISE GLOBAL ABRIGA GOVERNO A BUSCAR
JURO BAIXO E DÓLAR ALTO
Crise global abriga a buscar juro baixo e dólar alto ou
O que houve com a novela econômica no Brasil? Entenda o que mudou nos
últimos tempos para a economia brasileira e a enxurrada de medidas.
Os
jornalistas econômicos não podem reclamar da falta de assunto para as
suas matérias. O governo Dilma tem tomado medida atrás de medida,
tornando o acompanhamento dos menos atentos e assíduos às notícias
praticamente impossível.
O
que vemos é um governo que tem se destacado por uma atuação presente -
embora algumas vezes confusa - no cenário econômico do país. Como
resultado, podemos destacar três principais medidas:
1. Redução da taxa de juros básica da economia para o menor patamar histórico;
2. Preocupação em manter o dólar caro, em aproximadamente R$/U$D 2,00;
3. Estimulo à indústria nacional, por exemplo, via corte do imposto sobre produtos industrializados (IPI).
Antigamente,
na época em que eu era aluno de economia, além de os alunos não terem
distrações na sala como computadores, tablets e smartphones, as mudanças
ocorriam quando um novo governo assumia ou quando a equipe econômica
mudava.
Após
a tomada de posse da presidenta Dilma em 2010, muitos afirmaram que
esse governo seria a continuação do governo Lula e que as políticas
econômicas permaneceriam as mesmas. Hoje, dois anos após a posse da
presidenta, vemos que o seu governo não é uma “reprise” do governo
anterior. O que explica essas alterações no comportamento da equipe
econômica?
O
fato é que o mundo mudou. Desde o governo Lula, mais precisamente de
2004 a 2008, a economia global apresentava três características
marcantes:
1. O mundo crescia a taxas maiores;
2. O preço das commodities não parava de crescer;
3. O
Brasil tinha uma grande capacidade ociosa herdada do governo FHC – vale
lembrar que o custo da estabilização implicava a taxas menores de
crescimento.
Fonte: Banco Mundial / FMI
Essas
taxas de crescimento anual apontam que 2010 foi um ano excelente, digno
de comemoração - ledo engano! Acontece que 2009 foi um ano tão ruim,
mais tão “pior de ruim” que o crescimento em 2010 aconteceu sobre uma
base pequena, ou seja, foi um volta do patamar pré-crise. É o que
podemos resumir com a frase “para quem não tem nada, metade é o dobro”.
Voltando
à nossa argumentação, a economia global aquecida de 2004 a 2008 ajudava
o Brasil, que sempre atuou como nação exportadora de matéria prima e
produtos básicos - conhecidos no mercado financeiro como commodities.
Podemos
pensar a economia brasileira como um fábrica de sorvetes que, por
fatores climáticos, presenciou um verão de 4 anos. Como a economia
mundial cresce a taxas menores desde a crise de 2008, seguindo nossa
analogia, podemos imaginar que o vendedor de sorvete amargou um inverno
rigoroso e desde então, as suas vendas despencaram.
O
gráfico abaixo deixa claro, como o preço das matérias primas e produtos
básicos oscilaram nesse período levando países exportadores como o
Brasil a sofrerem com a queda brusca em 2008.
Fonte: Trading Economics
Com
um economia mundial crescendo menos e os preços das commodities mais
estáveis, o governo insiste em aumentar o investimento por meio de
redução da taxa de juros básica da economia (a taxa Selic) e através da
redução dos spreads incentivar o consumo. Além disso, vemos as diversas
medidas de incentivo e de proteção à indústria nacional na tentativa de
aumentar a produtividade.
Ainda
que no ano passado a inflação tenha ficado no limite máximo de 6,5%
estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), ela ainda assombra
muitos brasileiros e jamais podemos ignorar seu poder de ressuscitar. De
qualquer forma, a figura abaixo mostra a relação entre Selic e inflação
e as sucessivas reduções feitas a partir da segunda metade de 2011.
Fonte: Banco Central
Pode-se
dizer que, hoje, a preocupação do governo em manter taxas mais baixas é
maior do que manter a inflação dentro da meta, pois como vemos mesmo
com a inflação constantemente acima do centro da meta (4,5%), o governo
continuou a baixar as taxas de juros, fato jamais visto na era Henrique
Meireles. Provavelmente os governantes entendem que o risco de
ressuscitação é menor do que na era Lula.
Além
da busca por juros menores, o governo também tem mostrado um esforço em
manter o dólar desvalorizado para incentivar o setor exportador, já que
quanto mais caro for o dólar menor será o preço dos nossos produtos no
exterior. Logo, um câmbio de 2 R$/USD a nossa indústria se torna mais
competitiva do que com um câmbio de 1,70, como estava há alguns meses
.
Pelo
gráfico a seguir, fica clara a tendência à apreciação do Real. Essa
tendência pode ser explicada por diversos motivos: estabilidade
macroeconômica do país, a terceira maior taxa de juros real - o que
atrai investimentos externos – e, claro, grandes eventos como
Olimpíadas, Copa do Mundo etc.
No
entanto, nosso super-herói, defensor dos exportadores (e oprimidos?)
tenta incessantemente manter um cambio desvalorizado. Verdade que o
“milagre” da desvalorização tem vários padroeiros e não apenas o santo
governamenteiro como pensa Guido Mantega, devemos lembrar que um cenário
de incerteza na Europa leva à fuga de capitais do país.
Fonte: Trading Economics
Analisando
toda a situação, se o leitor teve paciência de chegar ao fim deste
artigo, vimos que um mundo crescendo menos, um país sem capacidade
ociosa e o preço das commodities menores forçaram o governo a ser mais
ativo em suas políticas econômicas. Como resultado, temos: insistência
em juros baixos, câmbio depreciado e busca por um choque de
produtividade e proteção à indústria nacional.
Como
choque de produtividade e proteção a indústria nacional vemos:
desoneração da folha de pagamento, redução do IPI para automóveis,
taxação de alguns bens importados como vinhos etc. Ou seja, é clara a
preocupação do governo com a indústria do país levando-o a tomar medidas
que antes não eram necessárias pelos motivos já citados. Portanto, não é
simplesmente que os jogadores são os mesmos e as cartas são outras, nem
mesmo esquizofrenia brasileira, a grande questão é que o jogo também
mudou!
* Post em Parceria com Leonardo de Siqueira Lima que é graduando em Economia pela EESP-FGV e Miguel Bandeira que é graduando em Economia pela EESP, Consultor e Conselheiro da CJE-FGV.
Fonte: Blog do Samy
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