quinta-feira, 21 de junho de 2012

Por Samy Dana*

 

CRISE GLOBAL ABRIGA GOVERNO A BUSCAR 

JURO BAIXO E DÓLAR ALTO

 

Crise global abriga a buscar juro baixo e dólar alto ou O que houve com a novela econômica no Brasil? Entenda o que mudou nos últimos tempos para a economia brasileira e a enxurrada de medidas.

Os jornalistas econômicos não podem reclamar da falta de assunto para as suas matérias. O governo Dilma tem tomado medida atrás de medida, tornando o acompanhamento dos menos atentos e assíduos às notícias praticamente impossível.

O que vemos é um governo que tem se destacado por uma atuação presente - embora algumas vezes confusa - no cenário econômico do país. Como resultado, podemos destacar três principais medidas:
1. Redução da taxa de juros básica da economia para o menor patamar histórico;
2. Preocupação em manter o dólar caro, em aproximadamente R$/U$D 2,00;
3. Estimulo à indústria nacional, por exemplo, via corte do imposto sobre produtos industrializados (IPI).

Antigamente, na época em que eu era aluno de economia, além de os alunos não terem distrações na sala como computadores, tablets e smartphones, as mudanças ocorriam quando um novo governo assumia ou quando a equipe econômica mudava.

Após a tomada de posse da presidenta Dilma em 2010, muitos afirmaram que esse governo seria a continuação do governo Lula e que as políticas econômicas permaneceriam as mesmas. Hoje, dois anos após a posse da presidenta, vemos que o seu governo não é uma “reprise” do governo anterior. O que explica essas alterações no comportamento da equipe econômica? 

O fato é que o mundo mudou. Desde o governo Lula, mais precisamente de 2004 a 2008, a economia global apresentava três características marcantes: 
1. O mundo crescia a taxas maiores;
2. O preço das commodities não parava de crescer; 
3. O Brasil tinha uma grande capacidade ociosa herdada do governo FHC – vale lembrar que o custo da estabilização implicava a taxas menores de crescimento.

Fonte: Banco Mundial / FMI

Essas taxas de crescimento anual apontam que 2010 foi um ano excelente, digno de comemoração - ledo engano! Acontece que 2009 foi um ano tão ruim, mais tão “pior de ruim” que o crescimento em 2010 aconteceu sobre uma base pequena, ou seja, foi um volta do patamar pré-crise. É o que podemos resumir com a frase “para quem não tem nada, metade é o dobro”.

Voltando à nossa argumentação, a economia global aquecida de 2004 a 2008 ajudava o Brasil, que sempre atuou como nação exportadora de matéria prima e produtos básicos - conhecidos no mercado financeiro como commodities.

Podemos pensar a economia brasileira como um fábrica de sorvetes que, por fatores climáticos, presenciou um verão de 4 anos. Como a economia mundial cresce a taxas menores desde a crise de 2008, seguindo nossa analogia, podemos imaginar que o vendedor de sorvete amargou um inverno rigoroso e desde então, as suas vendas despencaram.

O gráfico abaixo deixa claro, como o preço das matérias primas e produtos básicos oscilaram nesse período levando países exportadores como o Brasil a sofrerem com a queda brusca em 2008.

  Fonte: Trading Economics

Com um economia mundial crescendo menos e os preços das commodities mais estáveis, o governo insiste em aumentar o investimento por meio de redução da taxa de juros básica da economia (a taxa Selic) e através da redução dos spreads incentivar o consumo. Além disso, vemos as diversas medidas de incentivo e de proteção à indústria nacional na tentativa de aumentar a produtividade.

Ainda que no ano passado a inflação tenha ficado no limite máximo de 6,5% estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), ela ainda assombra muitos brasileiros e jamais podemos ignorar seu poder de ressuscitar. De qualquer forma, a figura abaixo mostra a relação entre Selic e inflação e as sucessivas reduções feitas a partir da segunda metade de 2011.

Fonte: Banco Central

Pode-se dizer que, hoje, a preocupação do governo em manter taxas mais baixas é maior do que manter a inflação dentro da meta, pois como vemos mesmo com a inflação constantemente acima do centro da meta (4,5%), o governo continuou a baixar as taxas de juros, fato jamais visto na era Henrique Meireles. Provavelmente os governantes entendem que o risco de ressuscitação é menor do que na era Lula.

Além da busca por juros menores, o governo também tem mostrado um esforço em manter o dólar desvalorizado para incentivar o setor exportador, já que quanto mais caro for o dólar menor será o preço dos nossos produtos no exterior. Logo, um câmbio de 2 R$/USD a nossa indústria se torna mais competitiva  do que com um câmbio de 1,70, como estava há alguns meses . 

Pelo gráfico a seguir, fica clara a tendência à apreciação do Real. Essa tendência pode ser explicada por diversos motivos: estabilidade macroeconômica do país, a terceira maior taxa de juros real - o que atrai investimentos externos – e, claro, grandes eventos como Olimpíadas, Copa do Mundo etc.

No entanto, nosso super-herói, defensor dos exportadores (e oprimidos?) tenta incessantemente manter um cambio desvalorizado. Verdade que o “milagre” da desvalorização tem vários padroeiros e não apenas o santo governamenteiro como pensa Guido Mantega, devemos lembrar que um cenário de incerteza na Europa leva à fuga de capitais do país.

Fonte: Trading Economics

 Analisando toda a situação, se o leitor teve paciência de chegar ao fim deste artigo, vimos que um mundo crescendo menos, um país sem capacidade ociosa e o preço das commodities menores forçaram o governo a ser mais ativo em suas políticas econômicas. Como resultado, temos: insistência em juros baixos, câmbio depreciado e busca por um choque de produtividade e proteção à indústria nacional. 

Como choque de produtividade e proteção a indústria nacional vemos: desoneração da folha de pagamento, redução do IPI para automóveis, taxação de alguns bens importados como vinhos etc. Ou seja, é clara a preocupação do governo com a indústria do país levando-o a tomar medidas que antes não eram necessárias pelos motivos já citados. Portanto, não é simplesmente que os jogadores são os mesmos e as cartas são outras, nem mesmo esquizofrenia brasileira, a grande questão é que o jogo também mudou!

* Post em Parceria com Leonardo de Siqueira Lima que é graduando em Economia pela EESP-FGV e Miguel Bandeira que  é graduando em Economia pela EESP, Consultor e Conselheiro da CJE-FGV.

Fonte: Blog do Samy


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