REFLEXÕES SOBRE O CENTENÁRIO DE NASCIMENTO
DE LUIZ "LUA" GONZAGA, O REI DO BAIÃO
Quando o calendário marcar o
dia 13 de dezembro de 2012 assinalar-se-á uma das mais importantes datas para o
nordeste brasileiro, pois estaremos comemorando cem anos de nascimento de Luiz “Lua”
Gonzaga, o rei do Baião.
Maravilhoso constatar que a
aculturação não está tomando proporção tão gigantesca quanto poderíamos aventar
em razão dos gastos estratosféricos fomentados pela proposta global,
principalmente no campo midiático, a fim de que esqueçamos quem somos, pois a conservação
da identidade de um povo não é vista com bons olhos pelos megainteresses do
empresariado e dos estados maiores que conduzem a ordem econômica internacional
sob a égide da ubiquidade do capital.
Luiz Gonzaga ousou superar
obstáculos, vencer o racismo e o peso dos ditames das estruturas de poder e se
afirmou como estrela luminar da constelação dos autênticos defensores das
tradições do nordeste brasileiro.
O saudoso e inesquecível Luiz
Gonzaga lutou e triunfou no “sul maravilha”, o qual, genuflexo à beleza de suas
inesquecíveis composições, passou a admirar a arte incomparável desse grande
mito de uma cultura regional que antes era desprezada e desvalorizada nos altos
circuitos da sociedade brasileira.
Mas foi na região que inspirou
sua arte que a aceitação do seu nome tornou-se símbolo de identidade. No
nordeste brasileiro, principalmente em sua porção sofrida com as calamidades
das secas, as músicas de Luiz Gonzaga tornaram-se sinônimo efetivo de
pertencimento, pois raros os lares que dispensavam os acordes da sanfona, do
triângulo e do zabumba, muitos talvez em virtude de não possuir rádios em razão
de condições socioeconômicas insatisfatórias.
Pregando a defesa ecológica
quando o tema não suscitava muito interesse, divulgador dos valores, das
estórias e dos costumes das quebradas de um sertão esquecido pelos poderes públicos
e privados, Gonzaga mostrou como poucos a riqueza de uma cultura autóctone que
brotou do relativo isolamento da região em que nasceu.
Quase nada passou despercebido
aos olhos e ouvidos atentos do eterno sanfoneiro do riacho da Brígida. Da
guerra de Princesa aos chofers de praça, das parteiras anônimas aos beatos e
cangaceiros tudo virou tema para compor suas canções, as quais brilharam de
forma insigne através de parceiras magistrais com grandes nomes como Humberto
Teixeira, Zé Dantas de Souza Filho e José Marcolino. A única vez que se “perdeu”
provavlemente foi quando da encomenda do jingle de campanha para o político
paraibano Pereira Lira. Gonzaga confundiu-o com Zé Pereira, chefe da sedição
que resultou na declaração do Território Livre de Princesa, resultando na composição
de “Paraíba”, homenageando assim, sem querer, a firme e aguerrida contestação
do mandonismo local ao governo do Presidente João Pessoa.
O frenesi que está sendo
observado nesse período junino, quando a arte de Luiz Gonzaga torna-se mais
presente, lembrando um passado não muito distante, com intensas homenagens
sendo prestadas a Luiz Gonzaga em seu centenário de nascimento, demonstra como a
permanência de seu legado é bastante importante para que permaneçamos com a
consciência da nordestinidade a permear nossas práticas culturais e sociais,
demonstrando assim que o “rei do baião” tornou-se eterno e inesquecível em
razão da forma como sua arte teve aceitação inequívoca e todo complexo que marca
o ideário de um povo forte e altivo.
(*) José Romero Araújo Cardoso
é professor-adjunto do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte.
Nenhum comentário :
Postar um comentário