sexta-feira, 29 de abril de 2011

POR CRISPINIANO NETO*



QUAL É A FACE DA MORTE

EM MOSSORÓ
 


A foice da morte não para de atuar em Mossoró. 

Em pouco mais de cem dias do ano em curso, já se contabilizam 64 assassinatos na Terra de Santa Luzia. 

Em recente entrevista, a governadora do Estado, que é mossoroense, minimizou: "todos sabem que isso é coisa da droga". 

Quem sabe, Geraldo Alckmin, seu correligionário, possa dizer a mesma coisa da Cracolândia e do PCC... Aliás, houve um tempo em que o governador paulista disse que ali não havia crime organizado... 

Pouco tempo depois transformaram Sampa numa fogueira desvairada, com cerca de quinhentas mortes em menos de uma semana. Mas... Voltemos a Mossoró. 

Em pouco mais de cem dias, mais de sessenta mortes violentas. 

Fico perguntando aos colegas que cobrem a área policial, mas ninguém sabe, ninguém viu, quem matou tanta gente? 

Quantos assassinos estão presos, quantos processos caminharam na área policial e quantos deles chegaram à Justiça e qual o destino, quando se sabe que tem gente matando a próxima vítima antes mesmo de ser devidamente instaurado o competente processo.

Pois bem. Já são 64 vidas ceifadas. Quantos assassinos estão presos? 

Sabe-se, pelo menos quem os matou? Quantos deles eram jovens, desempregados, drogados, aviõezinhos de um esquema de crime organizado que está devidamente instalado no poder em Mossoró. 

Ninguém se preocupa como chegamos a este ponto. É bem verdade que se trata de um problema nacional, mundial, até. 

Mas todos sabem também que Mossoró sempre foi um território quase livre da marijuana... E depois da cocaína... E agora do crack. 

É a única cidade do Brasil, mesmo nestes tempos de tanta liberalidade com o tráfico, que virou tradição uma saraivada de fogos rompendo o silêncio das manhãs para anunciar a chegada da muamba... 

Todo mundo sabe onde ficam as bocas de fumo, quem as comanda, como se fizeram fortunas inexplicáveis nesta cidade. 

E vamos matar uma geração de destinos estraçalhados pelo sistema e pelo esquema. 

E vamos derramar as balas do justiçamento nas fuças de quem, arrasta pela vida, enquanto a sentença de morte não é decretada, todas as consequências da falta de justiça. 

Ou melhor, de justiças: justiça social, justiça judiciária, justiça cristã, justiça econômica. 

Mossoró, com sua vocação incomensurável para a representação monta, na prática cotidiana, "o seu auto da barca do inferno". 

É a vida imitando a arte, numa chuva de balas constante, incansável, cruel, cínica, incapaz de ver o próprio umbigo a servir de 12, a mosca, no alvo da insanidade... 

Até que morra um filhinho de papai. Ou um papai. 

Só aí verão que já se foram cem, ou duzentos que terão negados o direito de ver 2012 numa cidade que se recusa a ver e mostrar, a face da morte.

 *Crispiniano Neto é: poeta, agricultor, engenheiro agrônomo, bacharel em direito, cordelista, colono, gestor cultural, escritor e jornalista




Um comentário :

Anônimo disse...

TUDO SERÁ ESQUECIDO NAS FESTAS JUNINAS.É ASSIM QUE MOSSORÁ SEMPRE FOI GOVERNADA.VAI ROLAR A FESTA, É SÓ AGUARDÁ