A HORA É AGORA
Deveria
ser evidente que estamos diante da urgente necessidade de corrigir
distorções produzidas por um generoso pensamento mágico desatento às
restrições físicas do mundo, às identidades da contabilidade nacional e à
“regra de três”, que procurou a redistribuição continuada de bens que
não foram produzidos.
O desejado desenvolvimento econômico com inclusão tem como condição necessária e simultânea o aumento da produtividade do trabalhador.
Este, certamente, depende de uma miríade
de fatores. Empiricamente, os mais importantes são o capital físico, que
incorpora os avanços tecnológicos, e o conhecimento para bem utilizá-lo
de que se dota cada trabalhador.
O que isso impõe? Qualquer que seja o regime da organização social e da economia nela
inserida, ele tem de harmonizar a distribuição do que foi produzido
entre: 1. O que se destina à satisfação imediata de suas necessidades (o
consumo e o bem-estar da população). 2. O que se destina a aumentar a
quantidade e a qualidade do capital físico (máquinas, infraestrutura) operado pelo capital humano (educação, saúde).
A lei de Helmut Schmidt é incontornável: é
o investimento de hoje que produzirá o crescimento de amanhã e criará a
oportunidade de emprego de depois de amanhã.
A verdadeira tragédia social e econômica
dos países é um processo em que: 1. Insiste-se em acreditar no que,
empiricamente, é reconhecidamente falso. 2. Acredita-se que as mesmas
causas podem levar a efeitos diferentes. 3. Quando tudo já deu errado,
tenta-se novamente, como ingerido no recente documento do Partido dos
Trabalhadores.
Estamos hoje, o Brasil e o mundo,
numa situação delicada. Ambos perdemos tração, mas é evidente que o
efeito externo sobre o qual não temos controle é muito menor do que o
efeito interno que temos instrumentos para controlar. Os últimos
resultados da Pnad, divulgados no dia 15 último pelo IBGE, são
alarmantes.
O Brasil corre o risco de ter mais de 10 milhões de
desempregados em março deste ano. Não dá para esperar mais! É
fundamental incorporar o senso de urgência.
Nessum dorma... O “principismo” do Supremo Tribunal Federal colocou em estágio letárgico o processo de “impeachment”, sobre o qual, aliás, sempre tive sérias dúvidas.
A solução, portanto, é a presidente assumir o seu protagonismo e apresentar, na abertura do Congresso, projetos de mudanças constitucionais e medidas infraconstitucionais que devolvam à economia a perspectiva da sustentabilidade de longo prazo.
O governo não tem que se inibir. Deve “ir para a rua”, sofrer o “panelaço” que lhe cabe e “colocar nas cordas” a sua indigente, obesa e medíocre “base” política.
O desemprego é o maior mal que corrói qualquer sociedade. Cada vez que um indivíduo que pode e quer trabalhar não encontra emprego, sente-se excluído.
A situação é ainda mais grave quando o desemprego se prolonga e ele perde o “capital humano” incorporado no simples ato de trabalhar: vai-se com o tempo a sua expertise, superada pelo avanço tecnológico. No fim do dia, perdeu um pedaço da sua identidade e destruiu a sua família.
Uma das medidas estruturais para acomodar as flutuações do emprego ínsitas no capitalismo é autorizar a plena validade do entendimento direto entre comitês de fábrica e empresários sob a vigilância dos sindicatos, que têm muito a aprender.
O que se propõe não é a flexibilização tout court. É que trabalhadores e empresários, sentados a uma mesa com as informações relevantes e transparentes, possam discutir caso a caso, livre e concretamente, qual a melhor forma de obter uma distribuição mais “justa” dos ganhos e dos inconvenientes da flutuação da conjuntura, respeitados a segurança, a estabilidade e os direitos constitucionais de ambas as partes.
Por si mesmo, tal entendimento aumentará o bem-estar de todos e mitigará as próprias flutuações da conjuntura.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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