quinta-feira, 27 de novembro de 2014

CRESCER OU CRESCER

Esquecendo algumas filigranas técnicas que não alteram as conclusões, num momento determinado, a soma: consumo privado mais consumo do governo (C) + investimento privado mais investimento público (I) + exportações (X) é, necessariamente, igual a tudo o que foi produzido internamente, o PIB (Y) + o que foi importado (M). Esse é um resultado físico, medido pelo cálculo do valor adicionado de cada componente de acordo com convenções bem estabelecidas. Para entendê-lo escrevamos:

Y = C + I + G + (X-M)

A igualdade se dá em qualquer nível da produção interna (Y). Não necessariamente no nível de disponibilidade do fator mais escasso de produção (a mão de obra, o capital ou a importação), que determina o famoso “produto potencial”.

Enquanto existirem fatores de produção disponíveis na proporção adequada, o PIB realizado (Y) dependerá da demanda interna (C + I + G) e da externa (X-M), manipuláveis pela política econômica. É preciso insistir: quando e somente quando existem fatores de produção disponíveis, e não se cria um déficit em conta corrente não financiável, é que o aumento da demanda induz um aumento físico do PIB. Quando não, ela acumula desequilíbrios que mais dia menos dia terão de ser corrigidos.

Em qualquer sociedade “civilizada”, o objetivo da política econômica é criar as condições para que o maior número possível da sua “força de trabalho” (os maiores de 15 anos que querem, podem e estão capacitados para trabalhar) seja empregado. Trata-se, portanto, de minimizar a “taxa de desemprego” (no que temos tido relativo sucesso).

 O que é, afinal, o desenvolvimento econômico? É apenas o crescimento da produtividade do trabalhador empregado! E como fazê-lo agora que nossa “revolução demográfica” reduziu o crescimento da população em idade de trabalhar? Propiciando a todos os trabalhadores e empresários um ambiente amigável e acolhedor e um maior volume de capital físico mais sofisticado (investimento público e privado), juntamente com a capacidade (educação pública e privada) para operá-lo.

É preciso aceitar uma verdade incontornável: é fisicamente impossível distribuir o que ainda não foi produzido a não ser que: a) Se ganhe um “presente” do exterior (uma melhora nas relações de troca como aconteceu entre 2003 e 2010), que é sempre intermitente (terminou em 2011), ou b) Se tome emprestado no exterior (por largueza ou necessidade). Isso exige uma cuidadosa harmonização entre a política distributiva e o aumento da produtividade que a sustenta e que é produzido pelo aumento do investimento. Não podemos e não precisamos retroceder nas políticas de inclusão social, mas elas não serão sustentáveis se em 2015-2018 repetirmos a desastrosa performance industrial de 2011-2014.

Nossas dificuldades se agravarão se o “andar de baixo” tiver de descer a escada que o levou à generosa miragem de que é “classe média”, forçado pela solução simplista de corrigir a situação com um “tremendo” choque fiscal e uma “dura” política monetária. Ele, provavelmente, será submetido a um desemprego politicamente inaceitável, porque a famosa “restrição fiscal expansiva” é ela mesma outra miragem.

É claro que será preciso maior coordenação e maior cuidado com a política econômica (fiscal, salarial, monetária e cambial), mas isso é apenas a condição necessária para criar a “expectativa” de volta ao crescimento. A condição suficiente está escondida na microeconomia, na capacidade do governo de cooptar o setor privado, devolvendo aos empresários as condições que lhes acendem o “espírito animal”, e aos consumidores a confiança de que não lhes faltará o emprego.

Precisamos de um programa com começo, meio e fim, absolutamente transparente, que seja executado nos próximos anos e que seja crível pelo conjunto de medidas propostas, como, por exemplo, a aprovação imediata da reforma do ICMS (que está pronta) e a proposta da CUT de flexibilização das negociações salariais com respeito a todos os direitos dos trabalhadores e sob o controle dos sindicatos.

Sem a volta ao crescimento nossos problemas apenas se agravarão. E sem a expansão do setor industrial o crescimento não voltará.

Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto

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