CRESCER OU CRESCER
Esquecendo algumas filigranas técnicas que não
alteram as conclusões, num momento determinado, a soma: consumo privado
mais consumo do governo (C) + investimento privado mais investimento
público (I) + exportações (X) é, necessariamente, igual a tudo o que foi
produzido internamente, o PIB (Y) + o que foi importado (M). Esse é um
resultado físico, medido pelo cálculo do valor adicionado de cada
componente de acordo com convenções bem estabelecidas. Para entendê-lo
escrevamos:
Y = C + I + G + (X-M)
A igualdade se dá em qualquer nível da produção interna
(Y). Não necessariamente no nível de disponibilidade do fator mais
escasso de produção (a mão de obra, o capital ou a importação), que
determina o famoso “produto potencial”.
Enquanto existirem fatores
de produção disponíveis na proporção adequada, o PIB realizado (Y)
dependerá da demanda interna (C + I + G) e da externa (X-M),
manipuláveis pela política econômica. É preciso insistir: quando e
somente quando existem fatores de produção disponíveis, e não se cria um
déficit em conta corrente não financiável, é que o aumento da demanda
induz um aumento físico do PIB. Quando não, ela acumula desequilíbrios
que mais dia menos dia terão de ser corrigidos.
Em qualquer sociedade “civilizada”, o objetivo da política
econômica é criar as condições para que o maior número possível da sua
“força de trabalho” (os maiores de 15 anos que querem, podem e estão
capacitados para trabalhar) seja empregado. Trata-se, portanto, de
minimizar a “taxa de desemprego” (no que temos tido relativo sucesso).
O que é, afinal, o desenvolvimento
econômico? É apenas o crescimento da produtividade do trabalhador
empregado! E como fazê-lo agora que nossa “revolução demográfica”
reduziu o crescimento da população em idade de trabalhar? Propiciando a
todos os trabalhadores e empresários um ambiente amigável e acolhedor e
um maior volume de capital físico mais sofisticado (investimento público
e privado), juntamente com a capacidade (educação pública e privada)
para operá-lo.
É preciso aceitar uma verdade incontornável: é fisicamente
impossível distribuir o que ainda não foi produzido a não ser que: a)
Se ganhe um “presente” do exterior (uma melhora nas relações de troca
como aconteceu entre 2003 e 2010), que é sempre intermitente (terminou
em 2011), ou b) Se tome emprestado no exterior (por largueza ou
necessidade). Isso exige uma cuidadosa harmonização entre a política
distributiva e o aumento da produtividade que a sustenta e que é
produzido pelo aumento do investimento. Não podemos e não precisamos
retroceder nas políticas de inclusão social, mas elas não serão
sustentáveis se em 2015-2018 repetirmos a desastrosa performance
industrial de 2011-2014.
Nossas dificuldades se agravarão se o “andar de baixo”
tiver de descer a escada que o levou à generosa miragem de que é “classe
média”, forçado pela solução simplista de corrigir a situação com um
“tremendo” choque fiscal e uma “dura” política monetária. Ele,
provavelmente, será submetido a um desemprego politicamente inaceitável,
porque a famosa “restrição fiscal expansiva” é ela mesma outra miragem.
É claro que será preciso
maior coordenação e maior cuidado com a política econômica (fiscal,
salarial, monetária e cambial), mas isso é apenas a condição necessária
para criar a “expectativa” de volta ao crescimento. A condição
suficiente está escondida na microeconomia, na capacidade do governo de
cooptar o setor privado, devolvendo aos empresários as condições que
lhes acendem o “espírito animal”, e aos consumidores a confiança de que
não lhes faltará o emprego.
Precisamos de um programa com começo,
meio e fim, absolutamente transparente, que seja executado nos próximos
anos e que seja crível pelo conjunto de medidas propostas, como, por
exemplo, a aprovação imediata da reforma do ICMS (que está pronta) e a
proposta da CUT de flexibilização das negociações salariais com respeito
a todos os direitos dos trabalhadores e sob o controle dos sindicatos.
Sem a volta ao crescimento nossos problemas apenas se agravarão. E sem a expansão do setor industrial o crescimento não voltará.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
Nenhum comentário :
Postar um comentário