sexta-feira, 28 de novembro de 2014

 PIB DO 3º TRIMESTRE REFORÇA

 SINAL DE MUDANÇA ESTRUTURAL


No terceiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,1% frente aos três meses anteriores, depois de duas quedas consecutivas (0,2%, no primeiro tri; e 0,6%, no segundo), de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O destaque positivo ficou com a indústria, que expandiu 1,7% — puxada pelo aumento de 2,2% da extrativa mineral e 1,3% da construção civil —, e do setor de serviços que registrou alta de 0,5% no período. Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro IBRE, avalia que o cenário representa o início de um ajuste macroeconômico, necessário para colocar o país nos trilhos rumo a um crescimento sustentável nos próximos anos. “Depois de um -0,2% e -0,6%, +0,1% é um crescimento muito fraco, de fôlego curto. Se a economia brasileira tivesse passando por uma recessão forte seria natural esperar uma recuperação mais forte nesse trimestre. Mas isso não aconteceu. O que levou um resultado negativo mais forte no segundo tri foi a Copa do Mundo, por exemplo, que reduziu o número de dias úteis, prejudicando a indústria e os investimentos, que agora vieram com taxas positivas. 

Porém, é muito pouco diante das quedas já observadas desde o início do ano; investimentos e indústria devem fechar o ano num nível muito negativo. Nossa previsão é de queda de 7% nos investimentos”, analisa.

Sob a ótica dos gastos, a despesa do consumo das famílias caiu 0,3% entre julho e setembro na comparação com trimestre findo em julho. Outro dado preocupante refere-se à taxa de Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, os investimentos. Apesar de ter tido uma expansão de 1,3% em relação ao segundo trimestre do ano, se a comparação for com o mesmo período de 2013, ela sofreu redução de 8,5%. “Sabemos que será necessário um crescimento menor para podermos controlar a inflação. Ao longo desse ano o Banco Central (BC) tem subido a taxa básica de juros, tanto que observamos uma contração do consumo das famílias. O consumo cresceu muito nos anos anteriores e agora, infelizmente, estamos observando uma desaceleração mais forte desse setor, que deve continuar no ano que vem. Então, essa desaceleração é necessária para que o BC consiga vislumbrar um controle maior da inflação”, destaca a economista.

Silvia também explica que, ao dar sinais de arrefecimento, o consumo, símbolo de pujança da economia brasileira nos anos anteriores, acaba mostrando uma desaceleração estrutural da atividade econômica. “O investimento não esta crescendo junto com o consumo e isso não é sustentável. O importante agora é destacar o quanto esse ciclo de consumo é perene e podemos concluir que seu aumento foi realmente em função do crédito expansivo, das taxas baixas de juros e do mercado de trabalho vigoroso, algo que não é visto hoje”, ressalta. Quanto aos serviços, a pesquisadora alerta para a trajetória mais fraca do setor, que tem grande peso no PIB, maior inclusive que a indústria. “Na crise, quando o PIB caiu, a taxa de serviços se manteve acima dos 2%. É um setor afetado por questões domésticas e aí aparece de novo a perda de vigor do poder de compra das famílias. É mais um reflexo dessa desaceleração estrutural”, conclui.

Fonte: Portalibre - FGV

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