PIB DO 3º TRIMESTRE REFORÇA
SINAL DE MUDANÇA ESTRUTURAL
No terceiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro cresceu 0,1% frente aos três meses anteriores, depois de duas
quedas consecutivas (0,2%, no primeiro tri; e 0,6%, no segundo), de
acordo com dados divulgados nesta sexta-feira, 28, pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O destaque positivo ficou
com a indústria, que expandiu 1,7% — puxada pelo aumento de 2,2% da
extrativa mineral e 1,3% da construção civil —, e do setor de serviços
que registrou alta de 0,5% no período. Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro IBRE,
avalia que o cenário representa o início de um ajuste macroeconômico,
necessário para colocar o país nos trilhos rumo a um crescimento
sustentável nos próximos anos. “Depois de um -0,2% e -0,6%, +0,1% é um
crescimento muito fraco, de fôlego curto. Se a economia brasileira
tivesse passando por uma recessão forte seria natural esperar uma
recuperação mais forte nesse trimestre. Mas isso não aconteceu. O que
levou um resultado negativo mais forte no segundo tri foi a Copa do
Mundo, por exemplo, que reduziu o número de dias úteis, prejudicando a
indústria e os investimentos, que agora vieram com taxas positivas.
Porém, é muito pouco diante das quedas já observadas desde o início do
ano; investimentos e indústria devem fechar o ano num nível muito
negativo. Nossa previsão é de queda de 7% nos investimentos”, analisa.
Sob a ótica dos gastos, a despesa do consumo das famílias caiu 0,3%
entre julho e setembro na comparação com trimestre findo em julho. Outro
dado preocupante refere-se à taxa de Formação Bruta de Capital Fixo, ou
seja, os investimentos. Apesar de ter tido uma expansão de 1,3% em
relação ao segundo trimestre do ano, se a comparação for com o mesmo
período de 2013, ela sofreu redução de 8,5%. “Sabemos que será
necessário um crescimento menor para podermos controlar a inflação. Ao
longo desse ano o Banco Central (BC) tem subido a taxa básica de juros,
tanto que observamos uma contração do consumo das famílias. O consumo
cresceu muito nos anos anteriores e agora, infelizmente, estamos
observando uma desaceleração mais forte desse setor, que deve continuar
no ano que vem. Então, essa desaceleração é necessária para que o BC
consiga vislumbrar um controle maior da inflação”, destaca a economista.
Silvia também explica que, ao dar sinais de arrefecimento, o consumo, símbolo de pujança da economia brasileira nos anos anteriores, acaba mostrando uma desaceleração estrutural da atividade econômica. “O investimento não esta crescendo junto com o consumo e isso não é sustentável. O importante agora é destacar o quanto esse ciclo de consumo é perene e podemos concluir que seu aumento foi realmente em função do crédito expansivo, das taxas baixas de juros e do mercado de trabalho vigoroso, algo que não é visto hoje”, ressalta. Quanto aos serviços, a pesquisadora alerta para a trajetória mais fraca do setor, que tem grande peso no PIB, maior inclusive que a indústria. “Na crise, quando o PIB caiu, a taxa de serviços se manteve acima dos 2%. É um setor afetado por questões domésticas e aí aparece de novo a perda de vigor do poder de compra das famílias. É mais um reflexo dessa desaceleração estrutural”, conclui.
Fonte: Portalibre - FGV
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