quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Por Luis Soares da Terras Nordestinas*

  A NOBREZA DE PRODUZIR ALIMENTOS


A sobrevivência humana continua recheada de velhos e confusos paradigmas. O que nos diferencia dos animais selvagens, das feras, seria o seu instinto de caçar, abater para então poder se alimentar. Mesmo diante de uma suposta atrocidade, não caça, não mata por prazer; mas, sim para dar continuidade a vida e a perpetuação da sua espécie.

A raça humana deixou, excluiu, banalizou a nobre missão de produzir alimentos. O foco passou a serem os empreendimentos, máquinas, equipamentos e utensílios para a satisfação do orgulho, da vaidade e da opulência patrimonial e financeira. O básico postulado da salvação do corpo via consumo de alimentos passou a depender de uma simples decisão política. Neste emaranhado ou desvio de conduta básico, surge à teoria que supostamente ama a humanidade; mas, detesta a qualidade de vida dos seus semelhantes. A isto poderíamos supor como sendo o ingresso da “Teoria de Gabinete”.

A prática de se taxar a produção de alimentos remota da era medieval. O imposto sempre insurgiu sobre o sofrido produtor rural. Desde aqueles remotos tempos tal imposição, à custa de muitos sacrifícios, eram destinados à construção de impérios, onde sempre se buscava o bem estar de quem imaginou e fez cumprir a irreversível condição de arrecadador de impostos. Assim e desta forma delineando este absurdo que ainda perdura no nosso tempo, devíamos lembrar-nos da história das grandes civilizações. Sem dúvidas, constata-se que apesar de existir no tempo falsas vitórias, sucumbiram pela fome.

Com o aumento da população mundial em progressão geométrica, o foco seria, politicamente falando, melhorar os padrões habitacionais, mais transporte, mais estradas, mais ferrovias, mais aeroportos, mais estádios de futebol, mais informática, mais saúde, mais educação, mais segurança, mais apetrechos responsáveis pela simples e pura satisfação pessoal. O modismo do possuir suplantou e apagou da mente dessa mesma sociedade, a lembrança de que sem alimento nada disso possa ser de caráter duradouro.

Cada vez mais o campo sofre com a suposição dos “direitos”. Cada dia mais a carga tributária exige que tenhamos mais e mais ganhos de produtividade. Cada dia mais, o campo executa uma odisseia de se tornar mínimo e produzir para o consumo máximo. A Engenharia Genética procura freneticamente o prolongamento da vida humana, como forma de estimular a sociedade de consumo. Prorrogar o prazo de validade seria o mesmo que angariar dividendos financeiros, para as grandes corporações mundiais, em todos os sentidos. A utopia vem dos fatos onde será considerado contraventor aquele ou aquele empreendimento que se atreva a modificar geneticamente as espécies vegetais e animais, responsáveis pelo suprimento de alimentos.

A condição química e física dos solos; a capacidade de retenção de água; o conhecimento dos elementos danosos à proliferação e o desenvolvimento das plantas; a resistência tanto das pragas como aos insetos; o domínio da química agrícola; o uso da engenharia hidráulica a serviço da produtividade; a redução dos custos operacionais, como forma de garantir a capacidade de produzir; a falsa ilusão da aparência em detrimento ao valor nutritivo dos vegetais e animais domésticos; do aperfeiçoamento das estradas e do transporte intermodal; a discrepância do mercado, que sempre culpa a produção e, com isto estimula o desperdício; são assuntos considerados de relevância prioritária.

A sociedade dita moderna vive a essência da incoerência. Os planos, programas e projetos anunciados como política de desenvolvimento sustentável, sucumbe, morre gradativamente e leva com isto, a que se possa antever o maior dos maiores males que a humanidade já vivenciou, qual seja A FOME. Estranhamente se acredita que tudo acontece como num passe de mágica, ou num simples abrir de um refrigerador, ou quando da visita a uma ilha de um supermercado e, daí poder desfrutar de muitas variedades de alimentos. A banalidade vai mais além. A mediocridade se volta para o custo dos alimentos, sem, entretanto procurar avaliar ou saber quanto custa para se produzir.

Na era da comunicação o mundo toma conhecimento da feroz batalha que os países enfrentam no tocante a produção de alimentos. As grandes transações comerciais não mais se vinculam a bens de consumo duradouro. Não. As grandes cifras cada dia são engordadas graças à aquisição de alimentos. As bolsas de valores possuem a projeção da necessidade crescente de matérias primas dos agasalhos, dos alimentos destinados qualidade de vida, enfim da vida em sua essência e virtude básica: Corpo perfeito para uma mentalidade brilhante!

* Luiz Soares é Engenheiro Agrônomo, produtor de frutas irrigadas, no município de Baraúna, Rio Grande do Norte,  e Professor aposentado da Universidade Federal Rural do Semiarido-UFERSA.


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