POR FALTA DE APOIO, FUNDAÇÃO VINGT-UN ROSADO,
ESTÁ SE DESFAZENDO DE 95% DO SEU ACERVO
Por falta de apoio, a Fundação Vingt-un Rosado, mantenedora da
Coleção Mossoroense, maior editora do Brasil em número de títulos
publicados, está se desfazendo de 95% do seu acervo. Isso significa
dizer que 142.500 exemplares da biblioteca serão doados a instituições
culturais e universidades da região.
A decisão de abdicar de parte
do acervo com 150 mil exemplares da Fundação Vingt-un Rosado, composto
pelo acervo pessoal de Vingt-un Rosado, a biblioteca de Ozelita Cascudo e
títulos da Coleção Mossoroense, foi tomada pela direção para evitar o
fechamento.
"Há sete meses o valor do convênio é repassado pela
Prefeitura com atrasos. Além disso, o convênio mantido com o Executivo,
que era de R$ 19 mil mensais, foi reduzido para R$ 10 mil. É uma
situação complicada. Por isso, decidimos procurar um imóvel menor para
abrigar o acervo, reduzir os custos para poder manter a Fundação
funcionando", explica Caio César Muniz, um dos administradores da
Fundação. A entidade sobrevive basicamente dos convênios e de alguns
projetos, como o Rota Batida, que têm possibilitado a manutenção da
Fundação.
Caio César Muniz revela que devido aos constantes atrasos
no repasse da Prefeitura e o clima de instabilidade vivido pela Fundação
está cada dia mais difícil manter a entidade. "A ideia é reduzir ao
máximo os valores para manter o funcionamento. Se desfazer do acervo foi
uma medida necessária, pois diante da realidade foi preciso ir para um
espaço menor, com custos reduzidos", diz.
Ele lamenta a decisão, mas
enfatiza que foi necessária. "É muito triste abrir mão do acervo, ver
um patrimônio cultural, construído por 60 anos pelo professor Vingt-un
Rosdo, sendo disperso para outras cidades. Quem perde com isso é
Mossoró, é o Rio Grande do Norte". Caio César Muniz complementa que além
da doação do acervo, a Coleção Mossoroense está com as publicações
suspensas para tentar contornar a crise.
O secretário de Comunicação
Social da Prefeitura de Mossoró, Julierme Torres, reconhece que houve
um atraso no repasse do convênio, no entanto ele afirma que o atraso é
de apenas um mês. "Houve um pequeno atraso no repasse que está sendo
regularizado amanhã (hoje)", declarou. Quanto à crise vivenciada pela
Fundação, o secretário disse que não é possível responsabilizar tão
somente a prefeitura pela situação.
"Houve realmente uma redução no
convênio entre o Executivo e a Fundação, pois o valor de R$ 10 mil
oferecido pela prefeitura era o possível a ser firmado para o momento, o
que a prefeitura podia repassar. A Fundação é uma entidade própria, e o
município está apenas como parceiro", disse
Títulos da Fundação Vingt-un Rosado servem como
referência para pesquisadores da história nordestina
A
relação das instituições culturais e universidades que receberão o
precioso acervo idealizado por Vingt-un Rosado está sendo levantada em
parceria com a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). Com
a doação, a cidade que um dia sonhou ser a "Capital da Cultura" perde
grande parte dos títulos que servem como referência para pesquisadores
da história nordestina.
De acordo com o professor de história da
Uern, Marcílio Falcão, um dos coordenadores do projeto de pesquisa que
catalogou o acervo da Fundação, a biblioteca construída a partir do
sonho de Vingt-un Rosado é imprescindível para os estudos das ciências
humanas. "Não tem como estudar a história do Nordeste sem a Coleção
Mossoroense", enfatiza.
O trabalho de catalogação dos exemplares que
durou pouco mais de dois anos e teve um investimento de R$ 40 mil, com
recursos da Universidade, está prestes a ser perdido. O projeto que
tinha como objetivo elaborar um catálogo para possibilitar o acesso de
pesquisadores do país ao acervo da Fundação, hoje está servindo como
base para coordenar a doação destes títulos.
"Daqui a quatro meses
vamos lançar o catálogo com a maior coleção de títulos do Brasil, no
entanto não será possível promover a circulação de conhecimento, uma vez
que a maioria dos títulos não ficará mais na cidade", lastima o
professor. Ele lamenta não haver em Mossoró uma política de preservação
de acervo.
Números
Acervo
150 mil exemplares
Serão doados
142,5 mil exemplares
Redução de 95%
Fonte: O Mossoroense
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