A HISTÓRIA DO DIA DO TRABALHO
O dia do Trabalho,
que se comemora em primeiro de maio em quase todos os países do mundo,
relembra um dos episódios mais violentos da história do movimento
operário. Em 1º de maio de 1889, militantes
anarco-sindicalistas que se manifestavam a favor da jornada de trabalho
de oito horas foram executados nas ruas de Chicago. A partir do ano
seguinte, por iniciativa da central sindical conhecida como Segunda
Internacional, instituiu-se esse dia como data máxima dos trabalhadores
organizados.
Surgido
em conseqüência da concentração de trabalhadores nas grandes fábricas
criadas a partir da revolução industrial, o movimento operário luta
para melhorar as condições de vida da população trabalhadora e mesmo
para modificar a ordem institucional em muitos países. Organizações
mais radicais do proletariado, inspiradas em idéias anarquistas e
comunistas, lideraram historicamente revoluções sociais cujo objetivo
era criar um novo tipo de sociedade.
Origens
Antes
da revolução industrial, os movimentos de protesto de origem urbana ou
rural caracterizavam-se pela escassa coesão ideológica e por seu
caráter violento e efêmero. A consciência de classe e a necessidade de
formar organizações permanentes para dirigir a luta operária apareceram
em conseqüência das novas condições de trabalho que a revolução
industrial criou, a partir do final do século XVIII. Além da
desumanização do trabalho, provocada pela introdução das primeiras
máquinas, o rígido sistema gremial foi substituído por um mercado livre
de trabalho. Com isso, ocorreram fenômenos como o prolongamento da
jornada de trabalho, a redução dos salários, o emprego de mulheres e
crianças em atividades insalubres, a falta de higiene e de medidas de
segurança nas fábricas e outros problemas. Foi no Reino Unido, primeira
nação industrializada do mundo, que surgiram as primeiras organizações
operárias, dirigidas a defender os trabalhadores das penosas condições
em que viviam e protestar coletivamente contra elas.
Na
fase inicial do movimento, os trabalhadores industriais dirigiram toda
sua agressividade contra as máquinas, às quais culpavam pelo
desemprego e pela piora de suas condições de vida. O movimento
destruidor de máquinas chamou-se ludismo e foi duramente reprimido, até
que deu lugar a novos métodos de luta, baseados na organização
sindical e nas cooperativas. A limitação da jornada de trabalho e o
reconhecimento legal do direito de associação foram as principais
reivindicações das trade unions (sindicatos), que já estavam
perfeitamente organizados no Reino Unido na década de 1830.
O
movimento cartista, surgido no calor da luta operária, entregou ao
Parlamento britânico, em 1838, uma série de reivindicações políticas
que incluíam o sufrágio universal, entendido como meio de alcançar as
melhorias sociais. Em paralelo, o movimento cooperativista,
impulsionado por alguns dos mais destacados socialistas utópicos --
como Robert Owen, no Reino Unido, e Charles Fourier, na França --
procurava criar o modelo de uma nova sociedade, baseado em melhores
condições de trabalho e na coletivização dos meios de produção.
Na
França, assim como em outros países europeus, o movimento operário
associado aos partidos republicanos e democratas progrediu
ideologicamente com as teorias de pensadores socialistas como Louis
Blanc, Pierre-Joseph Proudhon, Auguste Blanqui e outros. Depois dos
eventos revolucionários que sacudiram a Europa em 1848, ano de
publicação do Manifesto comunista de Karl Marx e Friedrich Engels, o
movimento operário dividiu-se em várias tendências. Os marxistas e
alguns anarquistas pregavam a luta revolucionária para derrubar o
sistema capitalista; os proudhonianos defendiam a implantação pacífica
de uma sociedade coletivista e os reformistas preferiam colaborar com
os regimes liberais, para obter conquistas políticas e sociais.
Internacionalismo
A
obra teórica de Karl Marx conferiu ao movimento operário um conteúdo
ideológico mais sólido que o de outras tendências socialistas. O
anarquismo imprimiu um sentido moral e universalista à revolução, que
passou a ser o objetivo político do proletariado e do campesinato de
alguns dos países mais atrasados no processo de industrialização, como
Espanha e Rússia. As duas tendências, representadas por Marx e Bakunin,
respectivamente, se uniram em 1864 sob a bandeira da Associação
Internacional de Trabalhadores (AIT). Mais conhecida como Primeira
Internacional, a AIT foi fundada em Londres com o objetivo de fomentar a
solidariedade proletária e promover a conquista do poder por aquela
classe social.
Inicialmente,
os sindicatos ingleses e franceses detinham a maior representação na
Internacional; a partir de 1868, porém, foram criadas seções regionais
na Bélgica, Espanha, Suíça, Itália e outros países. A desagregação da
Primeira Internacional ocorreu por causa da perseguição movida pelos
governos aos seus dirigentes, mas sobretudo pelas discordâncias entre
Marx e Bakunin. A derrota da Comuna de Paris em 1871, ensaio frustrado
de governo socialista que teve a participação dos internacionalistas,
precipitou a dissolução da organização. Durante o Congresso de 1872 em
Haia, as seções bakunistas se separaram da AIT e se integraram à
Aliança Internacional, uma nova organização anarquista. O fim estava
próximo: a Primeira Internacional acabou em 1876, e a Aliança realizou
seu último congresso no ano seguinte.
Enquanto
isso, a expansão do capitalismo e sua evolução para a etapa
imperialista, que se caracterizou por "exportar" para a periferia as
contradições do sistema, tornaram possível a concessão de benefícios
sociais nos países industrializados. O movimento operário tendeu a
orientar suas atividades no sentido de criar organizações sindicais
consolidadas e partidos social-democratas nacionais. Em 1889 foi
fundada a Segunda Internacional, em que predominava o Partido Social
Democrata Alemão. O principal teórico da revisão do marxismo foi Eduard
Bernstein, que concebeu a idéia de alcançar o socialismo por um
processo de aperfeiçoamento do capitalismo.
A
deflagração da primeira guerra mundial demonstrou a fragilidade do
conteúdo internacionalista dos partidos social-democratas da época,
pois cada um apoiou o governo de seu país em lugar de trabalhar pela
solidariedade operária entre os países em guerra.
Revolução russa e evolução do movimento operário
Diante
do "revisionismo" dos socialistas e social-democratas, os
revolucionários russos -- principalmente Lenin -- promoveram a criação
de um partido profissional, que representasse a vanguarda do
proletariado. O sucesso da revolução russa de 1917 alimentou, na classe
operária de outros países, a ilusão de uma rápida vitória do comunismo
internacional, e com isso a Europa viveu, entre 1918 e 1922, um novo
período de explosões revolucionárias. Em 1919 fundou-se em Moscou a
Terceira Internacional, ou Internacional Comunista. Os partidos
social-democratas da Hungria, no poder, combateram a revolução
proletária. Nos demais países da Europa, fracassaram as revoltas
isoladas dos novos partidos comunistas.
Em
reação ao ativismo comunista, surgiram os partidos fascista e nazista,
que chegaram ao poder na Itália e na Alemanha, respectivamente. Esses
partidos tinham tendência a incorporar, em seus programas, elementos do
trabalhismo e do sindicalismo.
O
movimento comunista se dividiu em 1938, quando Leon Trotski fundou a
Quarta Internacional, oposta ao stalinismo. O anarquista perdeu
terreno, na primeira metade do século XX, para a social-democracia e
para o comunismo.
Depois
de um período de isolamento e decadência, os partidos comunistas
voltaram a crescer na Europa, após a segunda guerra mundial,
principalmente na França e na Itália. A recuperação econômica do
continente fez com que esses partidos assumissem papéis compatíveis com
os estados capitalistas democráticos. Os grandes sindicatos
socialistas e comunistas da Europa, assim como os sindicatos
americanos, se transformaram em instituições integradas ao sistema
econômico e social capitalista e chegaram mesmo a colaborar com os
governos nos planos de austeridade adotados em épocas de crise. A
participação operária em alguns escassos episódios revolucionários, como
o de maio de 1968 em Paris, ocorreu à margem das diretrizes sindicais.
O
fenômeno de institucionalização do sindicalismo se manifestou com
maior intensidade dentro dos regimes comunistas, na União Soviética e
nos países do leste europeu. Os tímidos movimentos populares de
oposição aos regimes centralizadores ganharam expressão no final da
década de 1980. Com a dissolução da União Soviética, em 1991, os
trabalhadores dos antigos países comunistas passaram a apoiar
abertamente o retorno à economia de mercado. O final do século XX
encontrou o movimento operário europeu dividido e ameaçado por
conflitos nacionalistas, étnicos e religiosos, no leste, e pelo
recrudescimento do nazi-fascismo e do racismo, no oeste.
Fonte: www.colaweb.com
Por Daniele Cristiane Berti
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