PORTO DE NATAL JÁ PERDEU 50% DE
SUAS CARGAS DESDE JANEIRO
Com a perda da base de abastecimento de combustíveis no começo deste
ano, o Porto de Natal já perdeu 70% das atracações e 50% de cargas em
questão de quatro meses. As informações são de agentes portuários e
práticos, que dizem nunca ter visto uma situação tão dramática como a
atual para quem vive da movimentação de entrada e saída de navios.
Só a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) perderá por ano o
equivalente a R$ 1,2 milhão em tarifas portuárias que deixarão de ser
cobradas, lembra o gerente de operações do porto, Ricardo Amaury.
Segundo ele, por ser um terminal pequeno, a perda de uma base de
abastecimento afetou diretamente uma das principais vocações do terminal
que é dar apoio “offshore”. “É impensável um terminal que não possa
fornecer combustível para as embarcações menores”, reconhece Amaury.
De acordo com o agente portuário, Epitácio Fernandes, todo o apoio
offshore foi deslocado para o porto de Mucuripe, na região metropolitana
de Fortaleza, deixando o porto de Natal numa situação que ele
qualificou como “extremamente difícil”. Ele confessou que tem evitado
pensar muito no assunto para não perder o sono.
Para o mais antigo prático do porto de Natal, Sebastião Leite, há 36
anos orientando a entrada e saída de navios no terminal, não existe uma
época que ele lembre tão ruim quanto à atual. Há 21 dias se recuperando
de um problema de saúde, ele diz que a praticagem está esfacelada e
muitos aspirantes à profissão estão prestando concurso para se
transferirem de Natal.
Nesta segunda-feira, o presidente da Atlântico Tuna, Gabriel
Calzavara, confirmou que está abastecendo seu barco de pesca em Recife e
que nos próximos quatro meses estará analisando com sua equipe um
melhor local para basear as operações de pesca de atuns. “Vivemos uma
época de pensar os investimentos”, afirmou.
“Queria muito mesmo permanecer no Porto de Natal, pois conheço a
cultura que temos aqui com a pesca, mas não podemos nos dar ao luxo de
abastecer num porto, apanhar container em outro, gelo em outro. Nós
temos barcos de pesca e não barquinhos de lazer, tudo isso representa
dinheiro, custo”, afirmou.
Na semana passada, para piorar a situação, a Wilson & Sons avisou
numa reunião na Capitania dos Portos que estuda deixar apenas um
rebocador no Porto de Natal depois da perda dos navios de combustíveis
que atracavam uma vez por semana no porto.
Os tanques de Santos Reis foram inaugurados na década de 1940. Em
outubro do ano passado, a então prefeita Micarla de Sousa participou de
uma reunião com o diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto
Chaves de Almeida e anunciou a retirada dos tanques e a construção de um
museu do combustível.
Cobriu a cabeça, mas descobriu os pés. Hoje, todos concordam que não
havia mesmo o menor sentido em manter os tanques em meio a uma
comunidade que se formou ao redor deles. Mas em nenhum momento se previu
as conseqüências para o porto de sua base de abastecimento. Até que no
final do ano passado, sem alarde, a Petrobras deixou de direcionar seus
navios de combustíveis para Natal. Não houve um comunicado oficial,
apenas deixaram, de vir.
“Não se discute o fato que não existe porto sem uma base de
abastecimento”, reconheceu o gerente de operações do porto, Ricardo
Amaury. E, mesmo assim, ele diz que a perda de carga não foi
significativa, pois os navios porta containeres da CMA/CGM reduzirão
suas escalas para duas por mês, em Natal, apenas nos meses de junho e
julho, retornando a partir de agosto para transportar a safra de frutas.
A desativação da área de tanques de Santos Reis foi recebida no final
do ano com surpresa por muitos interessados, mas a verdade é que ela já
vinha se desenhando há muito tempo. Ou seja, era um desfecho anunciado
para o qual as autoridades nem do município nem do estado se prepararam.
Fonte: Jornal de Hoje Por: Marcelo Hollanda
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