terça-feira, 23 de abril de 2013


PORTO DE NATAL JÁ PERDEU 50% DE 

SUAS CARGAS DESDE JANEIRO


Com a perda da base de abastecimento de combustíveis no começo deste ano, o Porto de Natal já perdeu 70% das atracações e 50% de cargas em questão de quatro meses. As informações são de agentes portuários e práticos, que dizem nunca ter visto uma situação tão dramática como a atual para quem vive da movimentação de entrada e saída de navios.

Só a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) perderá por ano o equivalente a R$ 1,2 milhão em tarifas portuárias que deixarão de ser cobradas, lembra o gerente de operações do porto, Ricardo Amaury.

Segundo ele, por ser um terminal pequeno, a perda de uma base de abastecimento afetou diretamente uma das principais vocações do terminal que é dar apoio “offshore”. “É impensável um terminal que não possa fornecer combustível para as embarcações menores”, reconhece Amaury.

De acordo com o agente portuário, Epitácio Fernandes, todo o apoio offshore foi deslocado para o porto de Mucuripe, na região metropolitana de Fortaleza, deixando o porto de Natal numa situação que ele qualificou como “extremamente difícil”. Ele confessou que tem evitado pensar muito no assunto para não perder o sono.

Para o mais antigo prático do porto de Natal, Sebastião Leite, há 36 anos orientando a entrada e saída de navios no terminal, não existe uma época que ele lembre tão ruim quanto à atual. Há 21 dias se recuperando de um problema de saúde, ele diz que a praticagem está esfacelada e muitos aspirantes à profissão estão prestando concurso para se transferirem de Natal.

Nesta segunda-feira, o presidente da Atlântico Tuna, Gabriel Calzavara, confirmou que está abastecendo seu barco de pesca em Recife e que nos próximos quatro meses estará analisando com sua equipe um melhor local para basear as operações de pesca de atuns. “Vivemos uma época de pensar os investimentos”, afirmou.

“Queria muito mesmo permanecer no Porto de Natal, pois conheço a cultura que temos aqui com a pesca, mas não podemos nos dar ao luxo de abastecer num porto, apanhar container em outro, gelo em outro. Nós temos barcos de pesca e não barquinhos de lazer, tudo isso representa dinheiro, custo”, afirmou.

Na semana passada, para piorar a situação, a Wilson & Sons avisou numa reunião na Capitania dos Portos que estuda deixar apenas um rebocador no Porto de Natal depois da perda dos navios de combustíveis que atracavam uma vez por semana no porto.

Os tanques de Santos Reis foram inaugurados na década de 1940. Em outubro do ano passado, a então prefeita Micarla de Sousa participou de uma reunião com o diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Chaves de Almeida e anunciou a retirada dos tanques e a construção de um museu do combustível.

Cobriu a cabeça, mas descobriu os pés. Hoje, todos concordam que não havia mesmo o menor sentido em manter os tanques em meio a uma comunidade que se formou ao redor deles. Mas em nenhum momento se previu as conseqüências para o porto de sua base de abastecimento. Até que no final do ano passado, sem alarde, a Petrobras deixou de direcionar seus navios de combustíveis para Natal. Não houve um comunicado oficial, apenas deixaram, de vir.

“Não se discute o fato que não existe porto sem uma base de abastecimento”, reconheceu o gerente de operações do porto, Ricardo Amaury. E, mesmo assim, ele diz que a perda de carga não foi significativa, pois os navios porta containeres da CMA/CGM reduzirão suas escalas para duas por mês, em Natal, apenas nos meses de junho e julho, retornando a partir de agosto para transportar a safra de frutas.

A desativação da área de tanques de Santos Reis foi recebida no final do ano com surpresa por muitos interessados, mas a verdade é que ela já vinha se desenhando há muito tempo. Ou seja, era um desfecho anunciado para o qual as autoridades nem do município nem do estado se prepararam.

Fonte: Jornal de Hoje Por: Marcelo Hollanda


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