CREDIBILIDADE E RISCO
A confusão a respeito do financiamento da elevação dos custos da energia
elétrica ofereceu à agência de rating americana Standard&Poors o
pretexto que procurava para rebaixar a nota de crédito do Brasil. Alegou
"perda de confiança" de que o governo conseguiria cumprir suas metas de
política econômica em 2014, principalmente em relação à política
fiscal.
Essas agências de risco nos Estados Unidos têm seus objetivos, que dificilmente são transparentes: elas estão desesperadamente em busca de recuperar a credibilidade perdida pela incompetência demonstrada na avaliação da tempestade que se armava no mercado financeiro americano em 2007/2008 e depois desabou sobre a economia mundial. Em nenhum momento nos seis anos seguintes, pensaram em assumir a mais mínima parcela da responsabilidade pela crise financeira cujos custos estão sendo pagos pelos milhões de honestos trabalhadores que perderam seus empregos nos cinco continentes.
Na semana passada, a S&P anunciou o rebaixamento de um ponto na "nota de crédito" do Brasil, mantendo um ponto acima o "grau de investimento". Cita alguns fatos que a levam a concluir que estamos com um grave problema fiscal.
A interpretação que dá aos fatos é espalhafatosa, porque o Brasil não tem um problema fiscal: temos uma relação Dívida Bruta/PIB que se mantém estável há dez anos em torno de 60%; então não tem um problema fiscal na realidade. E o governo está comprometido com o objetivo de fazer o superávit primário de 1,9% em 2014. Existe uma perspectiva que o equilíbrio fiscal piore, no futuro, caso não adotemos as providências necessárias.
Outro item que não tem consistência é o que diz que há uma situação externa complicada. O Brasil não tem uma situação externa complicada: tem um déficit em contas correntes que o Banco Central acaba de estimar em US$ 80 bilhões em 2014 e mantém reservas que superam US$ 370 bilhões. Não é um nível de déficit que deva continuar, mas o fato é que o mercado já ajudou a corrigi-lo com uma desvalorização cambial que daqui a dez ou doze meses, terá resultados.
Quando se refere ao desenvolvimento brasileiro, o que se leu é uma piada de mau gosto: basta comparar o nosso crescimento de 2,3% do PIB num ano ruim para o mundo como 2013, com destaque para os pobres resultados na maioria dos membros do G20. Não podemos dizer que estamos satisfeitos atualmente com o baixo crescimento brasileiro, mas nosso mercado interno continua se desenvolvendo, aumentando o consumo da população e sustentando níveis de emprego bastante satisfatórios.
O rebaixamento da nota, porém, terá consequências desagradáveis para as empresas porque aumentará o custo dos empréstimos externos.
As agências de rating se valem do fato de que constituem um oligopólio misteriosamente construído e conservado dentro da legislação administrativa americana para fazer a avaliação dos riscos nos mercados financeiros.
Todo esse sistema contém interesses cruzados em disputa constante, de forma que as agências utilizam critérios duvidosos que nos levam a suspeitar de muitas de suas conclusões e da qualidade das previsões.
*Antônio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
Essas agências de risco nos Estados Unidos têm seus objetivos, que dificilmente são transparentes: elas estão desesperadamente em busca de recuperar a credibilidade perdida pela incompetência demonstrada na avaliação da tempestade que se armava no mercado financeiro americano em 2007/2008 e depois desabou sobre a economia mundial. Em nenhum momento nos seis anos seguintes, pensaram em assumir a mais mínima parcela da responsabilidade pela crise financeira cujos custos estão sendo pagos pelos milhões de honestos trabalhadores que perderam seus empregos nos cinco continentes.
Na semana passada, a S&P anunciou o rebaixamento de um ponto na "nota de crédito" do Brasil, mantendo um ponto acima o "grau de investimento". Cita alguns fatos que a levam a concluir que estamos com um grave problema fiscal.
A interpretação que dá aos fatos é espalhafatosa, porque o Brasil não tem um problema fiscal: temos uma relação Dívida Bruta/PIB que se mantém estável há dez anos em torno de 60%; então não tem um problema fiscal na realidade. E o governo está comprometido com o objetivo de fazer o superávit primário de 1,9% em 2014. Existe uma perspectiva que o equilíbrio fiscal piore, no futuro, caso não adotemos as providências necessárias.
Outro item que não tem consistência é o que diz que há uma situação externa complicada. O Brasil não tem uma situação externa complicada: tem um déficit em contas correntes que o Banco Central acaba de estimar em US$ 80 bilhões em 2014 e mantém reservas que superam US$ 370 bilhões. Não é um nível de déficit que deva continuar, mas o fato é que o mercado já ajudou a corrigi-lo com uma desvalorização cambial que daqui a dez ou doze meses, terá resultados.
Quando se refere ao desenvolvimento brasileiro, o que se leu é uma piada de mau gosto: basta comparar o nosso crescimento de 2,3% do PIB num ano ruim para o mundo como 2013, com destaque para os pobres resultados na maioria dos membros do G20. Não podemos dizer que estamos satisfeitos atualmente com o baixo crescimento brasileiro, mas nosso mercado interno continua se desenvolvendo, aumentando o consumo da população e sustentando níveis de emprego bastante satisfatórios.
O rebaixamento da nota, porém, terá consequências desagradáveis para as empresas porque aumentará o custo dos empréstimos externos.
As agências de rating se valem do fato de que constituem um oligopólio misteriosamente construído e conservado dentro da legislação administrativa americana para fazer a avaliação dos riscos nos mercados financeiros.
Todo esse sistema contém interesses cruzados em disputa constante, de forma que as agências utilizam critérios duvidosos que nos levam a suspeitar de muitas de suas conclusões e da qualidade das previsões.
*Antônio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.
Fonte: Diário do Comércio
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