NÃO É FÁCIL LEGISLAR
TECNOLOGIA, DIZ ESPECIALISTA
A
sanção do Marco Civil da Internet na semana passada suscita questões
sobre novos modelos de negócios que podem surgir e também sobre os
impactos econômicos que a nova lei pode ter. Na análise de Marcelo
Bechara, Conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a
lei acerta ao abranger valores e princípios perenes, que não dependem
da tecnologia. “Independente da tecnologia, temos de respeitar a
liberdade de expressão, privacidade, intimidade, pontos que não mudam
com os avanços tecnológicos”, destaca. E emenda: “Quando a legislação
entra no aspecto mais econômico, quanto mais ela pormenoriza, mais risco
corre de se tornar obsoleta, pois a internet tem uma característica
extraordinária de transformação”.
Bechara cita como exemplo as mudanças observadas na rede mundial de
computadores na última década. Alterações que passam não apenas pela
forma de acesso à rede, mas também por aspectos como layout, velocidade
aplicativos, portabilidade, entre outros. “Tenho certeza que daqui dez
anos a internet será outra, completamente diferente também. Talvez a
gente tenha um Marco Civil que responda as perguntas do presente e do
passado, mas não sei até que ponto ele responde perguntas do futuro”,
sugere. O conselheiro destaca que a tendência futura é ter a internet em
novos nichos de serviços e utilitários, com o sistema machine to
machine como forma de acesso a eles. “No mundo do futuro a gente precisa
ver se o Marco consegue responder a todas as perguntas que surgirão
diante dessa nova realidade, se é que elas virão”, pondera.
Ao citar esse cenário, Bechara conclui que sempre que se legisla
tecnologia existe esse risco. “Por isso sou favorável a que leis sejam
mais perenes. E para isso ela tem que ser uma lei que trabalhe valores,
princípios, dogmas e diretrizes que não vão mudar independente do que
aconteça com a tecnologia. E aí as especificidades ficam a cargo do
Poder Executivo e do órgão regulador— esse sim responsável por fazer o
acompanhamento das dinâmicas de transformação tecnológica”, diz.
Neutralidade
Favorável à neutralidade de rede, o Conselheiro cita, para demonstra
as diferentes vertentes da tecnologia, um exemplo em que a quebra de
neutralidade foi positiva: o gerenciamento da Porta 25. “O Brasil era o
4º maior spamer do mundo. Hoje estamos em 22º”, destaca ao lembrar o
acordo entre Anatel e Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br),
envolvendo empresas e órgãos de fiscalização, que definiu que as
operadoras brasileiras bloqueassem a porta 25 de usuários domésticos.
“Para mim isso é quebra de neutralidade de rede, mas é uma quebra
positiva porque tirou o Brasil de uma situação desconfortável”,
finaliza.
Fonte: FGV/IBRE
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