segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Por Auris Martins de Oliveira*

 
MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS: 
VERDADES E MITOS

O furação Sandy provocou estragos nos Estados Unidos, América Central e Canadá, e reacendeu a temática do aquecimento global com suas trágicas consequências para a humanidade. Os furacões são classificados dentro da escala de Saffir-Simpson, que considera a pressão medida no centro do fenômeno, além da velocidade dos ventos e tempestades provocadas. Nesta escala, um furação de categoria 1 é o mais fraco, causando pequenos danos. Já o de categoria 5, o mais forte, seus ventos ultrapassam 245 Km/hora. Neste pequeno texto, teremos como objetivo não adentrar nos prejuízos de milhões e milhões de dólares causados por este recente fenômeno que foi/está estampado na mídia. Nosso foco será fazer um breve comentário a respeito das mudanças climáticas globais apontando os argumentos defendidos pelo IPCC / ONU (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - Organização das Nações Unidas) e os dos cientistas tidos como, digamos assim, céticos no que se refere a temática do aquecimento global. No final, diante das considerações expostas das duas vertentes científicas, emitiremos nossa opinião.

Na vertente dos cientistas céticos se destaca o Prof. Dr. Luiz Carlos Molion, da Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Ele possui graduação em Física pela Universidade de São Paulo (USP) e é PhD em Meteorologia pela Universidade de Wisconsin-Madison nos Estados Unidos. De fato um renomado pesquisador que defende entre outros pontos que a ação antrópica do homem só possui efeitos locais, e não globais. Segundo Molion, o CO2 não tem nada a ver com isso, com o aquecimento do planeta. Na visão do pesquisador, os países ricos querem frear o crescimento econômico dos países emergentes para manter seu domínio sobre a economia mundial. Ou seja, a questão em torno do tema é meramente econômica.

Outro argumento defendido pelos céticos, em favor da tese de que não está acontecendo o aquecimento global é com relação as cíclicas eras de resfriamento e aquecimento no planeta. Ou seja, entre as décadas de 40 e 70 aconteceu um resfriamento da terra, e neste espaço de tempo foi observado um verdadeiro boom de crescimento das fábricas e indústrias no pós segunda guerra mundial. Este exemplo é usado como algo que contradiz o argumento do efeito estufa, já que neste período existiu um aumento exponencial das emissões de CO2 na atmosfera e, no entanto, o que aconteceu foi um resfriamento do planeta.     

Existe, por fim, a questão das ilhas de calor, com seus efeitos do transporte urbano, construções, grandes dimensões de estradas asfaltadas, pouca ou quase nenhuma concentração de árvores, grandes aglomerados de edifícios, residências e empresas, em áreas densamente povoadas, que geram por si só aumento e grande desconforto na temperatura local. E é nestes grandes centros (cidades) onde exatamente se concentram as estações de climáticas, nestas áreas urbanas.

Sobre isto, ressalte-se, foi produzida em 2012 no Curso de Especialização em Gestão Ambiental da UERN, uma monografia com o título: "Clima urbano: uma análise do campo térmico e sua relação com o uso e cobertura do solo na cidade de Mossoró/RN". Neste trabalho a autora Professora Suellen Cristiane Tavares Neres, estudou o escaldante clima da cidade de Mossoró com suas elevações de temperatura, comparando-se suas médias detectadas de um extremo a outro da cidade. Já seu orientador, o Prof. Dr. Joel Silva Santos, hoje na UFPB, fez sua tese de doutorado sobre estudos similares, porém bem mais profundos, com o título: "Campo térmico urbano e a sua relação com o uso e cobertura do solo em cidade de clima tropical úmido". Através de medições científicas, este pesquisador comprovou que as temperaturas na praia de Tambaú, em João Pessoa-PB, são mais elevadas que em determinados locais no perímetro urbano daquela capital, exatamente por conta desta questão provocada pelas concentrações de construções (asfaltos, prédios etc), sem o devido planejamento arquitetônico e arbóreo da área.

Por sua vez, num sentido mais macro, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) afirma que "a concentração de dióxido de carbono, de gás metano e de óxido nitroso na atmosfera global tem aumentado marcadamente como resultado de atividades humanas desde 1750, e agora já ultrapassou em muito os valores da pré-industrialização". Este organismo conclui que, "o aumento global da concentração de dióxido de carbono ocorre principalmente devido ao uso de combustível fóssil e a mudança no uso do solo, enquanto o aumento da concentração de gás metano e de óxido nitroso ocorre principalmente devido à agricultura". O comprovado aumento sem controle destas emissões é um grave problema ambiental do insustentável sistema econômico mundial, que causa o efeito estufa; uma vez que o calor irradiado pelo sol e penetrado no nosso planeta não volta para o espaço. Existe um efeito estufa natural, que é responsável inclusive pela vida na Terra, mas este causado pela ação antrópica do homem vem causando sérios desequilíbrios no aumento de temperatura do planeta.

Outra grave afirmação do IPCC é que: "O aquecimento do sistema climático não é um equívoco, sendo agora evidente de acordo com as observações de aumento global do ar e das temperaturas dos oceanos, derretimento de gelo e neve em larga escala, e aumento global do nível dos oceanos". As previsões catastróficas do aumento das águas dos oceanos são a grande preocupação das nações nos dias de hoje, sobretudo por conta das cidades construídas próximas do mar. Cite-se Fortaleza, Natal, Rio de Janeiro etc.

Já o doutor em Ciências Físicas pela Universidade de São Paulo, José Goldemberg, professor/pesquisador da Universidade de Stanford, EUA; também acredita que a rotação da Terra em relação ao sol, e a mudança de posição da sua órbita em torno daquele astro muda a temperatura do nosso planeta aumentando-a. Mas, a magnitude da ação antrópica do homem com emissões atmosféricas de alto impacto está provocando, segundo Goldemberg, o aquecimento causador de eventos climáticos extremos, como furacões, chuvas torrenciais e secas extremas. Quanto a este último, cite-se o semiárido nordestino (grifo nosso).

Os argumentos das duas vertentes possuem propriedades embasadas em fatos metodológicos usados na Ciência. O leigo, porém, não precisa da Ciência para perceber que os oceanos estão quebrando os calçadões das praias nas capitais litorâneas. Contudo, quando o tema é polêmico e envolve a continuidade da raça humana na Terra, tem que existir uma ponderação bastante séria. Ao defenderem com veemência que não existe o aquecimento global pela força da ação do homem estes renomados cientistas estão prestando serviço a alguém? Assim como acontece na política, existem pesquisadores sem ética? Antes de responder qual posição tomar é necessário não prioritariamente responder a estas perguntas, mas refletir seriamente sobre elas. Uma coisa, porém, não conseguem os céticos esconder ou ofuscar, as emissões atmosféricas estão aumentando de forma exponencial e o clima no planeta nunca teve temperaturas tão elevadas. Que as correntes céticas estão corretas em defender a existência dos ciclos de resfriamento e de aquecimento no nosso planeta isto parece ser ponto pacífico. Mas, tentar literalmente tapar o sol com a peneira em torno das elevadas temperaturas médias, contabilizadas desde o ano de 1750, é a maior causa do ceticismo em torno dos céticos, desculpem pela redundância.

* Auris Martins é Prof. M.Sc.- UERN 

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