ADEUS AO GRANDE MESTRE
RAIMUNDO SOARES DE BRITO
Avisado através de mensagem
eletrônica pelo grande amigo Kydelmir Dantas, quase não acreditei que havia
subido ao plano celestial mais um baluarte da cultura potiguar, cuja partida
empobrece significativamente todo circuito intelectual que se formara em sua
volta, bem como a dos demais que habitam à Direita do Altíssimo, a exemplo de
Vingt-un, Dorian, João Batista, América Rosado, entre outros.
Conheci o grande mestre Raimundo
Soares de Brito em 13 de Junho de 1994, quando de palestra por mim ministrada
em fórum da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. Logo me aproximei
daquele homem sereno que demonstrava muita experiência e um grande faro para a
história.
Despertou-lhe interesse quando
apresentei artigo sobre o bandoleiro Ulisses Liberato de Alencar, pois natural
de Caraúbas (RN), Raimundo Soares de Brito assinalara em seu acervo a
referência feita ao cangaceiro no diário de Telêmaco Cícero.
Privando da amizade com Raimundo
Soares de Brito e sua esposa Dinorá, também de saudosa memória, passei a
freqüentar assiduamente a residência do casal, pois além de palestra
extremamente inteligente e articulada, o notável caraubense se notabilizava ainda
pelo zelo que tinha pelo impressionante acervo composto de livros, jornais e
outros documentos de valor histórico incontestável.
Contestava em Raimundo Soares de
Brito a mania de extrema perfeição no que tange à insistência em não querer
publicar livros em razão que os mesmo, conforme depoimentos do próprio, ainda
não estavam em condições de vir a público. Raimundo Soares de Brito escrevia há
anos sobre o “Coronel” Quinca Saldanha, mas não foi convencido a entregá-lo
para impressão.
Certa vez Raimundo Soares de Brito
apresentou-me trabalho inédito escrito no final da década de cinqüenta do
século passado por respeitada senhora da sociedade caraubense, com raízes em
Pombal (PB), de nome Raimunda Dalila de Alencar Gurgel.
Trata-se de relíquia
histórico-genealógica sobre a comunidade rural do Jordão, localizada entre
Caraúbas (RN) e Patu (RN). Convenci-o a estender o trabalho, revisá-lo e
publicá-lo pela Coleção Mossoroense com o título de “O Jordão e sua gente”.
Tenho orgulho de ter meu nome ao lado do dele nesta publicação sobre a
localidade que teve outrora na estrada de ferro um marco de progresso e de
desenvolvimento que infelizmente as implacáveis exigências do capital
responsabilizaram-se em fragmentar de forma acintosa.
Gênio das letras, Raimundo Soares de
Brito pertencia aos quadros de diversas entidades culturais no Estado do Rio
Grande do Norte, sendo ainda sócio-correspondente em diversas outras espalhadas
pelo país.
A importância de Raimundo Soares de
Brito para a cultura potiguar é tão proeminente que a Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte outorgou-lhe o título de Doutor Honoris Causa em
reconhecimento de sua luta em favor da preservação da história.
O exemplo de abnegação e humildade
deixado por Raimundo Soares de Brito deve motivar as gerações presentes e
futuras a sempre buscar novos horizontes, pois não obstante o grande mestre não
ter tido oportunidade de freqüentar academias, será sempre louvado como grande
referência quando se tratar do amor às letras no Estado do Rio Grande do Norte.
(*) José Romero Araújo
Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.
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