quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Por José Romero Araújo Cardoso*



ADEUS AO GRANDE MESTRE

 RAIMUNDO SOARES DE BRITO

      
Avisado através de mensagem eletrônica pelo grande amigo Kydelmir Dantas, quase não acreditei que havia subido ao plano celestial mais um baluarte da cultura potiguar, cuja partida empobrece significativamente todo circuito intelectual que se formara em sua volta, bem como a dos demais que habitam à Direita do Altíssimo, a exemplo de Vingt-un, Dorian, João Batista, América Rosado, entre outros.
        
Conheci o grande mestre Raimundo Soares de Brito em 13 de Junho de 1994, quando de palestra por mim ministrada em fórum da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. Logo me aproximei daquele homem sereno que demonstrava muita experiência e um grande faro para a história.
        
Despertou-lhe interesse quando apresentei artigo sobre o bandoleiro Ulisses Liberato de Alencar, pois natural de Caraúbas (RN), Raimundo Soares de Brito assinalara em seu acervo a referência feita ao cangaceiro no diário de Telêmaco Cícero.
           
Privando da amizade com Raimundo Soares de Brito e sua esposa Dinorá, também de saudosa memória, passei a freqüentar assiduamente a residência do casal, pois além de palestra extremamente inteligente e articulada, o notável caraubense se notabilizava ainda pelo zelo que tinha pelo impressionante acervo composto de livros, jornais e outros documentos de valor histórico incontestável.
          
 Contestava em Raimundo Soares de Brito a mania de extrema perfeição no que tange à insistência em não querer publicar livros em razão que os mesmo, conforme depoimentos do próprio, ainda não estavam em condições de vir a público. Raimundo Soares de Brito escrevia há anos sobre o “Coronel” Quinca Saldanha, mas não foi convencido a entregá-lo para impressão.
            
Certa vez Raimundo Soares de Brito apresentou-me trabalho inédito escrito no final da década de cinqüenta do século passado por respeitada senhora da sociedade caraubense, com raízes em Pombal (PB), de nome Raimunda Dalila de Alencar Gurgel. 

Trata-se de relíquia histórico-genealógica sobre a comunidade rural do Jordão, localizada entre Caraúbas (RN) e Patu (RN). Convenci-o a estender o trabalho, revisá-lo e publicá-lo pela Coleção Mossoroense com o título de “O Jordão e sua gente”. Tenho orgulho de ter meu nome ao lado do dele nesta publicação sobre a localidade que teve outrora na estrada de ferro um marco de progresso e de desenvolvimento que infelizmente as implacáveis exigências do capital responsabilizaram-se em fragmentar de forma acintosa.
           
Gênio das letras, Raimundo Soares de Brito pertencia aos quadros de diversas entidades culturais no Estado do Rio Grande do Norte, sendo ainda sócio-correspondente em diversas outras espalhadas pelo país.
            
A importância de Raimundo Soares de Brito para a cultura potiguar é tão proeminente que a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte outorgou-lhe o título de Doutor Honoris Causa em reconhecimento de sua luta em favor da preservação da história.
          
O exemplo de abnegação e humildade deixado por Raimundo Soares de Brito deve motivar as gerações presentes e futuras a sempre buscar novos horizontes, pois não obstante o grande mestre não ter tido oportunidade de freqüentar academias, será sempre louvado como grande referência quando se tratar do amor às letras no Estado do Rio Grande do Norte.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.


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