SÓ O CRESCIMENTO RESOLVE
Vivemos um momento de grande
tensão. Na mais plena observância da Constituição, afastou-se
preventivamente a presidenta da República e foi empossado, interinamente,
o vice-presidente, enquanto o Senado apura se houve desvio de função
durante a desastrosa administração do País de 2012 a 2016.
Como sair do pântano de equívocos que
embaraçam a retomada do nosso crescimento econômico? A única forma é
prosseguir na construção da sociedade civilizada inscrita na
Constituição, com um Estado forte, enxuto e eficiente,
constitucionalmente controlado, que garante a plena liberdade de
iniciativa, procura a crescente igualdade de oportunidades para todos os
cidadãos e no qual a coordenação da atividade econômica é feita através
de mercados bem regulados.
Notemos que a Constituição recusa, ao
mesmo tempo, a existência da autorregulação automática e natural da
economia e a necessidade de um Estado provedor de bens e serviços que
podem ser mais eficientemente produzidos pelo setor privado.
A Constituição não reconhece o absurdo do Estado mínimo (tudo pelos mercados)
ou do Estado máximo (tudo pelo Estado). Além disso, reconhece que não
há “mercado” sem um Estado forte capaz de garantir o seu funcionamento.
Para facilitar o entendimento do nosso
problema, vamos analisar o esqueleto de todo o processo físico de
desenvolvimento econômico. Ele se aplica a qualquer tipo de sociedade,
sob qualquer regime político.
Como se vê no Quadro 1, trata-se de um
processo termodinâmico: um grupo ocupa um espaço físico, o seu meio
ambiente, concentra a energia nele dispersa e a dissipa na produção dos
bens e serviços de que necessita, usando o estoque de capital (trabalho
passado congelado) que aumenta a sua produtividade.
Tudo o que é produzido numa unidade de tempo constitui o Produto Interno Bruto,
que pode ser usado para exportação (a troca de um bem com um grupo
vizinho, essencial para a sua produção), ou consumo, que alimenta o
trabalhador, ou investimento, que deve cobrir o capital consumido na
produção.
A produção do PIB é um problema técnico,
mas a distribuição do produzido é um problema político, resolvido por
quem detém o poder na sociedade. O processo fecha-se sobre si mesmo e
não há lugar para divagação ideológica.
O Quadro 2 mostra empiricamente o fato.
Se chamarmos de Y o PIB, de L a força de trabalho empregada, e de K o
estoque de capital, vemos a importância empírica de K/L (a quantidade de
capital atribuída, em média, a cada trabalhador) sobre Y/L (a
quantidade de PIB produzida, em média, por trabalhador).
O aumento da taxa de
crescimento físico do PIB, isto é, da produtividade da mão de obra, é
condição necessária, ainda que não suficiente, para a solução de todos
os nossos problemas. Ela depende do aumento da relação K/L, ou seja, de
um aumento do estoque de capital, através dos investimentos, maior que a
mão de obra empregada.
Num regime de liberdade individual, há
uma restrição para aumentar a coesão social: a necessidade de harmonizar
o crescimento do capital físico, o investimento, com os benefícios de
uma distribuição mais equânime do produzido, o consumo.
Nosso problema é combinar o ajuste fiscal
de curto prazo com as reformas que darão perspectivas ao investimento.
Sem elas, é pouco provável ter sucesso no quadro fiscal. É preciso
convencer a sociedade de que, a despeito dos gritos de desespero dos
espertos corporativismos, as “reformas” não são “maldades”. São
“benignidades”!
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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