A PROPINA E O VOTO
Sérgio Machado, ex-senador do PSDB, por 12 anos presidente da Transpetro, tornou-se figura nacionalmente conhecida após ter pessoalmente grampeado políticos influentes “amigos” e, simultaneamente, revelado os mecanismos da corrupção existente na subsidiária da Petrobras.
Tenebrosas transações de empresários e
políticos com diretores da maior estatal do País geram propina. Esta
gera votos para os partidos e enriquece congressistas ambiciosos.
As dezenas de delações à Lava Jato, operação iniciada há mais de dois anos, embora impulsionada pela truculência e pela arbitrariedade, revelam que o juiz Sergio Moro e asseclas da Procuradoria e da Polícia Federal se alimentam do estimulante caixa 2.
É muito dinheiro, como se sabe agora. Daí talvez valha
lembrar a sentença do Padre Vieira, mais sociólogo que sacerdote: “O
dinheiro nem sempre passa da mão por onde passa”. Ou seja, nem sempre
chega legalmente aos cofres dos partidos. Se não é “por dentro” é “por
fora”, estipulou uma regra pétrea nos acordos entre doadores e
receptores.
Há muito tempo a eleição no Brasil
tornou-se uma competição mais econômica do que política. E por aí se
desvirtuou. O candidato vai atrás do dinheiro para, depois, buscar o
eleitor.
O tucano Arthur Virgílio corajosamente
relevou: “Em 1986, fui obrigado a fazer caixa 2 na campanha para o
governo do Amazonas (...) Vamos acabar com mocinhos pré-fabricados e
bandidos preconcebidos (...) A maioria das campanhas tem caixa 2”.
Recentemente, Machado demarcou o que seria o começo de
tudo: “Desde 1946”. Segundo ele, o “custo político” era, e ainda é,
propiciado pelos empresários e “incluído no orçamento das obras”.
De lá para cá, o processo se alastrou. O povo arca com os custos.
Machado fala, e fala de cadeira, sobre a
distribuição de propina entre os partidos políticos. Quem já conversou
com o executivo, reconhece e identifica nele um homem simpático,
inteligente, irônico. Dessa última virtude, aliás, ele tirou uma
definição para a Petrobras: “É a madame mais honesta dos cabarés do
Brasil”.
Machado aponta para o elenco das
estatais, além da Petrobras, sugadas pelos vampiros da política:
Departamento Nacional de Transportes, Docas, Banco do Nordeste, Fundação
Nacional de Saúde, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Não falou em Furnas.
Talvez por mero esquecimento.
A data do começo
dessa arruaça criminosa com o dinheiro público, apontada por Machado, é
discutível. Há, porém, uma coincidência. Esse suposto ano, 1946, além de
ser a data de aniversário de Machado, sucede o fim do Estado Novo.
Haveria relação de causa e efeito?
Preso há mais de um ano pela Lava Jato, Marcelo Odebrecht,
dono da empreiteira com seu sobrenome, em suposto arranjo para uma
delação premiada, teria lançado uma óbvia e atenta afirmação: “Os
repasses via caixa 2 são parte da cultura política do País e do sistema
de financiamento a partidos”.
Movido pela pressão imposta pelas circunstâncias, o
Supremo Tribunal Federal proibiu a doação de empresas para as campanhas
eleitorais a partir de 2016. A regra começa a vigorar nas eleições
municipais de outubro. É previsto um impacto nas campanhas. O caixa 2
será reinventado com o mundialmente conhecido jeitinho brasileiro. A
diferença, no caso, ocorrerá no topo da pirâmide social.
Fonte: CartaCapital
Por Mauricio Dias
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