"A CLASSE MÉDIA EMERGENTE
DESCOBRIU AS ESCOLAS DE NEGÓCIOS"
O Brasil transformou-se num mercado atraente para as escolas de
negócios, em razão do avanço da economia e da ascensão das classes C e
D, ávidas por formação de nível superior. Prova disso, de acordo com
dados do Ministério da Educação, é o aumento dos cursos de graduação,
que passaram de 793 para 2.150, e do número de alunos, que subiu de 290
mil para 700 mil. “A classe média emergente descobriu as escolas de
negócios”, diz Maria Tereza Leme Fleury, diretora da FGV-Eaesp.
Por que cresceu a procura pelos cursos de negócios?
A procura é decorrência do processo de desenvolvimento econômico ocorrido no Brasil e na América Latina, nestes últimos dez anos. A redistribuição de renda gerou uma classe média que está demandando educação superior e descobriu as escolas de negócios. Temos uma série de escolas que vão atender esse público menos exigente. Para outro grupo de alunos, que busca uma educação mais qualificada, há oferta de universidades públicas e privadas de primeira linha.
Aumentou o interesse de escolas estrangeiras por alunos brasileiros?
Sim. Muitas escolas estrangeiras têm interesse no Brasil, tanto em levar alunos para fora quanto em executar programas de educação executiva para empresas. A escola suíça IMD é um exemplo.
Até que ponto as empresas estão dispostas a estimular o empreendedorismo interno?
No discurso, a maioria das empresas se diz aberta ao empreendedorismo. Mas a prática cotidiana é um pouco diferente. No dia a dia, o espaço para pensar em novas estratégias, em projetos fora da caixa e assumir riscos é reduzido, o que acaba desestimulando as pessoas.
Por que as empresas não estimulam o espírito empreendedor?
Em geral, é porque quando ela se abre para o empreendedorismo acaba se expondo ao risco e isso pode ter implicações para o negócio.
As escolas de negócios brasileiras valorizam o empreendedorismo?
Vou responder pela FGV. Nossos alunos têm aulas sobre o que é uma média e uma pequena empresa, como se faz um plano de negócios, o que significa abrir um empreendimento. Eles têm como colegas alunos de engenharia e isso tem produzido muita troca entre eles. Isso pode, no futuro, gerar novos negócios e estimular o empreendedorismo.
Após a crise de 2008, o que mudou em termos de ética empresarial?
Houve um questionamento muito forte sobre esse assunto, principalmente nas escolas de negócios americanas como Wharton e Harvard. Houve uma preocupação de que a disciplina de ética não seja apenas ensinada, mas que seus alunos coloquem essas questões em prática.
A meritocracia está arraigada nas empresas?
Sim. A maioria das empresas procura ter uma visão meritocrática. A questão sempre é, ao se avaliar o desempenho de um profissional, levar em consideração não só os resultados financeiros, mas um conjunto de fatores que deem uma visão mais completa do trabalho executado.
O modelo americano de escolas de negócios ainda predomina?
O modelo americano influenciou muito as escolas ao redor do mundo, no passado. Hoje, as escolas europeias, que eram influenciadas pelas americanas, têm uma teoria própria de gestão.
E as brasileiras?
No Brasil, existe uma preocupação muito grande em relação ao que estamos ensinando, com estímulo à pesquisa. O aluno precisa compreender o que é a realidade brasileira.
Qual é o papel de uma escola de negócios?
Prover uma formação de excelência e, ao mesmo tempo, desenvolver conhecimento, fazendo pesquisas, desenvolvendo conteúdo, entendendo melhor o ambiente econômico e social. Procurar, enfim, ter ferramentas políticas e práticas que melhorem a realidade.
Fonte: Isto É Dinheiro
Por: Keila Cândido
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