"EXISTE UMA PROTEÇÃO
AO EXECUTIVO"
A vereadora Izabel Montenegro (PMDB) é uma política que não mede
palavras quando está em polêmica. Nesta entrevista, ela abriu o jogo e
disse o que muitos políticos não têm coragem de falar a respeito do
Ministério Público e da Prefeitura de Mossoró. Ela apontou uma série de
possíveis irregularidades no Executivo que os promotores fazem vista
grossa e não investigam.
O Mossoroense: A senhora tem feito algumas críticas ao Ministério Público, por quê?
Izabel
Montenegro: Eu recebi esta semana uma enxurrada de notificações da
Justiça que foi provocada pelo Ministério Público, que tem a obrigação
de agir assim quando provocada. São ações para questionar ações de mil e
poucos reais de diárias. Outras com valores um pouquinho maiores,
inclusive uma em que eu fui a Brasília para participar de sessão solene
em homenagem à abolição dos escravos em Mossoró, proposta pela deputada
Sandra Rosado. Foi uma sessão que contou com a presença do saudoso
Gonzaga Chimbinho, que era secretário de Cultura; com a atriz Tony
Silva, que cantou o hino de Mossoró; e eu fui representando a Câmara,
juntamente com o então presidente Júnior Escóssia. Ele questiona que a
gente não deveria ter ido com diárias da Câmara. Ele questiona que na
posse da governadora Rosalba Ciarlini a gente não deveria ter ido
representando a Câmara com diárias. Depois, ele questiona que na posse
do presidente do Tribunal de Contas a gente também não era para ter
recebido diárias. Isso é uma ingerência, uma coisa descabida. Eu acho
que a Justiça tem muitos processos para julgar, o da Operação Sal Grosso
já tem milhões de páginas. Acho que devem ter reservado um quarto só
para essa quantidade de papéis. Eu me indigno quando sei e vejo o
prefeito interino(eleito) dizendo que foi deixado um rombo de 46 milhões
de reais e nunca o Ministério Público, que não precisaria ser provocado
porque a declaração do prefeito fala por si... O prefeito falou que há
um rombo na saúde de 16 milhões, que há remédios superfaturados em 40%
como a insulina, por exemplo... e nunca o Ministério Público foi
investigar nada dessas informações que não são do meio da rua, são do
prefeito de Mossoró.
OM: A senhora acha que há uma perseguição contra os vereadores?
IM:
Não entendo porque essa perseguição. É como se na cidade de Mossoró só
existisse desvio de recursos na “Operação Sal Grosso”. Aí eu faço
questão de dizer: os empréstimos foram devolvidos na sua totalidade. O
que deixou de ser pago por um período foi devolvido. Naquele momento ele
tratou com dois pesos e duas medidas, porque dois vereadores foram
inocentados. Eles pediram o mesmo empréstimo, no mesmo período e
devolveram no mesmo dia, na mesma hora, minuto e segundo que os outros.
Mesmo assim eles foram absolvidos. É como se houvesse muito mais do que
se procurar corrigir a corrupção porque é uma perseguição pessoal, uma
animosidade pessoal entre o promotor e alguns vereadores. Eu me incluo
entre eles. Eu acho que fui penalizada por ser concunhada do
ex-presidente da Câmara e tenho até um relacionamento muito difícil com
ele. O promotor se equivocou. Eu tenho vários processos e passei a
última semana recebendo oficiais de justiça que chegavam na minha casa
de seis e meia da manhã. Isso não tem parado, tem assim... o que eu já
gastei de advogado é quatro vezes mais do que o valor que foi pedido
emprestado na sua totalidade. É como se ele só pudesse sossegar quando
tirasse a paz de vez da gente, da família da gente. Teve assessores que
passaram três meses na Câmara e estão respondendo a processos.
OM: Como assim?
IM: Teve pessoas que o promotor procurou, se fez
de amigo e essas pessoas fizeram a delação premiada e estão todas como
réus também. Esse processo é todo diferente, esquisito. É como eu disse:
é uma perseguição pessoal sobre esse caso.
OM: O que te faz ter tanta certeza disso?
IM: Em Mossoró, a gente
sabe, tem muita gente que nunca colocou um prego numa barra de sabão e
ficou rica, empresária do dia para a noite. O próprio promotor sabe
disso. Você jornalista fez uma entrevista com o promotor Eduardo em
2007, que tinha investigações mais amplas na Prefeitura e na Uern. Ele
dizia que tinha indícios seriíssimos de desvio de recursos públicos e
nunca foi dada uma resposta à cidade de Mossoró. Por isso a minha
indignação. Ele deve, sim, investigar todos os poderes. Deve investigar a
Câmara Municipal, mas nunca a gente foi sequer chamado para assinar um
termo de ajustamento de conduta. Eu era vereadora de primeiro mandato e
algumas coisas a gente chegou sem saber o que era correto. A Câmara
sempre foi desestruturada com a sua administração e o setor contábil e a
gente não foi preparado nem informado. Hoje não. A gente vive um
momento diferente e depois que aconteceu isso se corrigiu e tem uma
empresa contratada para fazer a prestação de contas da verba de
gabinete.
OM: A senhora fez um pronunciamento muito duro com o Ministério Público.
IM:
Eu gostaria que o Ministério Público se sentisse provocado com a minha
cobrança no pronunciamento. Já foram vários pronunciamentos na Câmara
Municipal de Mossoró e até agora o Ministério Público não deu uma
resposta porque a lei de acesso à informação não é cumprida, apesar de
ser lei, a folha de pagamento de 2012 da Prefeitura de Mossoró nunca foi
publicada. É disso que eu quero resposta. Não que a gente faça os
vereadores da “Operação Sal Grosso” bodes expiatórios. É como se toda a
corrupção desta cidade tivesse sido praticada pelos vereadores. É uma
injustiça. Tudo foi pago e devolvido.
OM: Qual a sua avaliação do comportamento do Ministério Público em relação ao Poder Executivo?
IM:
Há dois pesos e duas medidas. Existe uma proteção ao Executivo. Não
consigo entender a explicação. A gente sabe que nem tudo é perfeito,
correto. Eu fui secretária em duas gestões. Todos os servidores da
Prefeitura viajavam e nunca faziam uma prestação de contas. Teve gente
que foi até ao exterior e nunca prestou contas de diárias.
OM: No governo de quem?
IM: Nos governos de Fafá e Cláudia Regina.
O que eu estranho é que nunca foi pedida a prestação de contas de uma
diária. Eu fui secretária e guardei as prestações de contas porque já
passei por problema. Mas nunca foi pedido. Quem sabe quanto era gasto
com essas viagens ao exterior para participar de feiras? Quantas pessoas
foram por conta do poder público? A Promotoria precisa justificar para o
povo de Mossoró o porquê de não ter feito nada após o prefeito dizer
que a prefeitura tinha um rombo de 46 milhões de reais.
OM: Tem também a auditoria da folha de pagamento. Como a senhora analisa a exclusão dos vereadores?
IM:
Fomos proibidos. Se criou uma comissão para que os vereadores
participassem, mas foram proibidos porque existia um contrato de
confidencialidade desse convênio entre a Uern e a Prefeitura. A gente
sabe que isso não cabe na coisa pública. Temos a lei de acesso à
informação. Não é opcional se divulgar. O Ministério Público está
assistindo a isso e não toma nenhuma medida.
OM: Por que a senhora tem esse entendimento?
IM: A gente vê os
próprios serviços públicos prestados na cidade e a qualidade desses
serviços. O mossoroense precisa saber que são milhões em dinheiro
público saindo pelo ralo e nunca foi tomada até hoje nenhuma
providência. Essa é a minha indignação e vou continuar falando porque
falo da “Operação Sal Grosso” de cabeça erguida. Não me envergonho.
Trabalhei 32 anos da minha vida e sou aposentada hoje pela Caixa
Econômica Federal e como vereadora em apenas quatro anos vi enxovalhar o
nome de várias pessoas que trabalharam a vida toda com honestidade.
Tudo que tenho hoje é uma casa para morar financiada pela Caixa e
quitada pelo FGTS em 1998.
OM: Por que há o comportamento em relação ao Executivo?
IM: Isso
para mim é inexplicável. A gente sabe que existem algumas parcerias em
que o Executivo cede empregados e também emprega algumas pessoas. Isso
dificulta que o Ministério Público seja mais imparcial. Aqui eu quero
deixar registrado que não são todos os promotores: eu respeito a
instituição Ministério Público e sei que ele tem prestado relevantes
serviços ao meu Estado e a minha cidade. Mas o comportamento
espalhafatoso com que foi feito, publicado e divulgado nessa “Operação
Sal Grosso” é o que me indigna diante de tantas atrocidades, como é o
caso de quando se desvia dinheiro público na saúde e vidas são ceifadas.
Até hoje na cidade temos filas de cirurgias oncológicas enormes. Tem
filas para cirurgias eletivas e a gente sabe que a maiorias desses
recursos quando chega é desviada. O que falta é dizer que investigou.
OM: E o Tribunal de Contas?
IM: Sobre o Tribunal de Contas? Pelo
Tribunal de Contas a Câmara estava aprovada 2004, 2005, 2006, 2007 e
2008. Isso significa então que está tudo errado? Ou que estava tudo
certo e a “Operação Sal Grosso” não deveria ter acontecido? Se a
Prefeitura tem o atestado do Tribunal de Contas, a Câmara tem também.
Mas a gente sabe e isso é a olhos vistos e eu dizia na Tribuna da Câmara
de pessoas em Mossoró que compraram dois, três apartamentos e tem
carros de mais de 160 mil reais. Isso aí é inexplicável. Eu acho que o
Ministério Público deve uma satisfação à sociedade mossoroense.
OM: Essas pessoas que a senhora citou enriqueceram graças à Prefeitura?
IM:
A gente conhece várias dessas pessoas. Eu tenho certeza de que isso é
fácil checar. Hoje é obrigação de todas as construtoras e incorporadoras
e concessionárias divulgar quem comprou carro, quem comprou
apartamento. Tem que divulgar à Receita Federal. Se tivessem o interesse
e a vontade de checar e descobrir esses desvios de recursos públicos
era só pegar esses dados na Receita Federal e confrontar com o
patrimônio dessas pessoas e veriam que é incompatível. Isso é bem
simples. Basta querer. Falta vontade.
OM: Enquanto vereadora, a senhora já tomou alguma atitude?
IM: Eu
enquanto vereadora da oposição, em 2005, fui ao Ministério Público pra
ver a questão da iluminação pública de Mossoró que sempre foi
superavitária e investia menos.
OM: Os requerimentos rejeitados também serviriam de mote para o Ministério Público?
IM:
Olhe... com certeza. Você lembra que o próprio Ministério Público
informa que começaram as investigações sobre a Câmara que resultou na
Operação Sal Grosso depois que a gente aprovou uma lei, que na
oportunidade eu votei contra, efetivando 13 funcionários. Dizem que o
Ministério Público se sentiu provocado ali. Como esse mesmo Ministério
Público não se sente provocado hoje com o prefeito falando sobre o
rombo, falando sobre superfaturamento. Isso é inexplicável não haver
hoje algum procedimento do Ministério Público. Ele esteve no Tarcísio
Maia, na Máfia dos Homens de Branco e ali morreu. Botaram uma pedra em
cima. A única coisa que satisfaz o ego é a “Operação Sal Grosso”.
OM: Saindo dessas polêmicas com o Ministério Público e indo para a
política. Como a senhora analisa o resultado da eleição suplementar?
IM:
Essa eleição suplementar eu diria que foi bem atípica. O candidato
Francisco José Júnior tinha uma vantagem muito grande de estar prefeito,
onde a candidata Larissa Rosado foi às ruas de Mossoró e o juiz
eleitoral passou os 21 dias da campanha dizendo que ela não poderia
concorrer, que os votos dela não seriam computados e eu credito a isso. O
maior cabo eleitoral do prefeito eleito foi a judicialização da
eleição. Sem falar que é muito bom ter poder. Tinha 15 vereadores
acompanhando o prefeito. Foi uma conjuntura, não foi de repente que
Silveira saiu de uma eleição com pouco mais de 2.600 votos mais ou menos
e passou para 68 mil votos. Nós tínhamos pesquisas com um percentual
significativo da população que não conhecia o prefeito. Isso é bem
natural que ele era vereador apesar de estar na quarta legislatura. Ele
teve apoio dos 15 vereadores, teve a questão de Larissa estar sub judice
que foi a principal e mesmo assim não entendi muito o resultado. O
“fedback” que a gente recebeu nas ruas de Mossoró é de uma receptividade
muito boa para a deputada. A explicação mais plausível que eu tenho é
essa.
OM: A senhora concorda com a tese de que essa eleição prejudica a candidatura ao governo de Henrique Alves?
IM:
Não. Eu acho que cada eleição tem uma história diferente. Claro que
existe o casamento de uma eleição para outra. Foi bom, claro, para o
vice-governador Robinson Faria ter o apoio da Prefeitura de Mossoró que
já levou o DEM ao Governo do Estado. A gente não pode dizer que isso não
é importante. Mas eu não acredito que isso vá comprometer porque as
pessoas sabem e devem ter consciência, apesar de Henrique não ser o
deputado que está todo dia em Mossoró, mas está todo o final de semana
no Estado... a gente sabe dos benefícios, do poder de articulação, do
prestígio que o deputado tem em Brasília haja vista ele ter 44 anos de
parlamento e ser respeitado e articulado. Eu acredito que Henrique com
esse arco de alianças que ele formou em torno do seu nome tem muitas
chances de vitória e nós trabalharemos se Deus quiser para isso. Mas a
eleição de Mossoró com certeza fortaleceu um pouco o projeto de Robinson
Faria.
OM: No PMDB existe uma disputa de comando entre a senhora e o grupo
da ex-prefeita Fafá Rosado pelo comando do partido e ela tem feito um
trabalho na imprensa. Até onde Fafá acrescentou ao PMDB?
IM: Todo
mundo tem voto. Todos são benvindos porque uns têm cinco, outros têm
dez, outros mil e outros dez mil. Quando Fafá se filiou ao PMDB trouxe
apenas 23 pessoas. Em Natal, na minha presença, na do deputado Leonardo e
do vice-prefeito Wellington Filho ela prometeu ao deputado Henrique que
iria fortalecer o PMDB trazendo uma série de técnicos e o pessoal da
construção civil, do sal e da fruticultura. Ela não conseguiu. A gente
sabe que é diferente quando você está no poder. Quando ela esteve no
poder ela fortaleceu o PV que no seu governo teve oito secretarias e o
PMDB só tinha uma fundação sem orçamento. Quando a ex-prefeita foi falar
que queria ir para o PMDB é, claro que o PMDB, política se faz somando,
achou bom porque ela tem os votos dela. Mas eu acho que ela está
cometendo novamente um equívoco quando vai à imprensa tentar subestimar o
meu valor porque sou uma simples vereadora e ela é uma ex-prefeita e o
marido dela é deputado. Mas eu construí ao longo desse tempo um
relacionamento de confiança.
OM: A senhora se refere à divergência de Fafá.
IM: Aí nesse
momento o ministro e o presidente Henrique Alves precisavam dos
peemedebistas de Mossoró para o projeto deles que passava pelo apoio do
PSB e retirada do nome de dona Wilma que era candidata a governadora e
estava em primeiro lugar nas pesquisas e abriu mão do projeto de
Henrique. Ela faltou com o PMDB na primeira oportunidade que nós
precisamos, mas achamos que ela tem os votos dela.
OM: Ela foi decisiva na eleição suplementar?
IM: Não foi somente
ela quem deu a vitória. Foi um conjunto de fatores que deram a vitória
ao prefeito eleito Francisco José Júnior. Ela chegou com os votos que
ela tinha, mas cometeu um equívoco de ficar num palanque diferente. Ela
disse que não subiria no palanque de Sandra e Larissa. É o mesmo
palanque que estaremos em outubro e ela sendo candidata a deputada
federal estará nesse palanque. Henrique estando em Mossoró, ela não vai
subir nesse palanque? Eu acho que política a gente não faz guardando
ódio em geladeira. A gente precisa descer do palanque da eleição
suplementar e começar a pensar e ter outra postura e não querer diminuir
os companheiros do PMDB porque ela pode ter levado alguns suplentes de
vereador e o vereador Claudionor, mas outros ficaram conosco e nós
conseguimos, inclusive, nos aproximar mais do PMDB histórico apesar dela
ter feito visitas e provocar um fiapo no PMDB. A gente sabe que aquelas
pessoas que são fieis e votam por amor por acreditar que o projeto do
PMDB é o melhor seguiram a orientação de Henrique.
OM: Vamos ter duas eleições para presidente da Câmara. Como a oposição vai se comportar?
IM:
A oposição vai tentar compor o melhor projeto para a Câmara. Entendemos
que é muito importante o poder legislativo e que o presidente da Câmara
tem que ser uma pessoa que tenha condições de gerir o poder legislativo
e conseguir que não seja apenas um apêndice do poder executivo. Vamos
compor com quem tiver o melhor projeto. Precisamos de um presidente com
esse perfil. Que conheça os problemas e ajude a buscar as soluções para
os grandes gargalos da nossa cidade.
OM: Quem tem esse perfil?
IM: A gente sabe muito bem quando deve
retirar o nosso bloco. Eu tinha a pretensão de disputar a presidência da
Câmara, mas infelizmente nós perdemos o pleito e está mais para a
situação. Vejo com bons olhos o vereador Jório e o vereador Soldado
Jadson. Existem outros vereadores que tem condições, mas existem algumas
coisas nos perfis desses vereadores que já dificulta uma aproximação
com o grupo da oposição. A oposição está unida, coesa e a gente vai
votar junto. Teremos sete votos porque o vereador Lucélio vai assumir na
hora de votar. Mas nós estamos todos juntos nesse projeto. Tem pessoas
sem experiência dizendo que pode ser eleger sem os votos da oposição.
Uma pessoa dessas não tem experiência nem capacidade de gerir o poder
legislativo municipal.
OM: Quem foi?
IM: Eu gostaria de preservar o nome, mas daí você já
vê o nível dessa pessoa que é candidata a eleição do mandato tampão que
pode ter uma surpresa com a eleição do vereador Alex Moacir e aí como
você pergunta: o prefeito vai deixar eleger um vereador da oposição? Eu
respondo que ele é fruto de uma engenharia política dessas. Ele foi
eleito na oposição, mas teve a composição com a prefeita Cláudia Regina.
Então tudo é possível. O que a gente quer é um poder legislativo forte.
Fonte: O Mossoroense
Por Bruno Barreto - Editor de Política
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