ÁGUA É VIDA NO SEMIÁRIDO
NORDESTINO

Jamais acontecerá a reversão tanto dos
efeitos como das causas estruturais que humilham o povo nordestino, sem que o
país reconheça e busque na velha geografia o fundamento e consolidação das
ações que se fazem oportunas. As cidades sofrem é verdade; mas, o verdadeiro
drama é sem dúvidas aquelas facilmente registrado no mundo rural e agrícola. Os
efeitos são desastrosos para a sobrevivência humana com total destruição dos
rebanhos.
Propositadamente não iremos recorrer aos
Anuários Estatísticos ou Censo produzido e elaborado pelo IBGE; não iremos
buscar o número de brasileiros, brasileiras, mães solteiras, jovens e crianças
que teimam honrosamente em reafirmarem os seus vínculos com a terra e a
produção agrícola; com os Índices de Desenvolvimento Humano; e, tantos outros
indicadores, que sempre nos colocam na condição de miseráveis e dependentes
crônicos.
Não cabe, portanto, mas devem ser lembrados
os efeitos milenares das secas nas Terras Nordestinas; mas categoricamente
afirmar nesta oportunidade, que a causa é de origem climática, envolvendo
características químicas e físicas dos solos e a capacidade de aproveitamento e
gerenciamento com sustentabilidade, de todos os nossos incomensuráveis e
invejáveis recursos hídricos.
Devemos sim, citar exemplos de ilhas
exitosas, como os projetos de irrigação em Petrolina/PE; no vale do
Jaguaribe/CE; na Chapada do Apodi/RN; no vale do Gurgéia e Janaúba/MG; e, até
mesmo no Platô de Neópolis/SE. A própria OEA (Organização dos Estados
Americanos) nos seus mais diversos tratados, afirma, deixa claro e faz
projeções para um futuro bem próximo, de que só e somente as terras situadas ao
longo da linha do Equador serão capazes de produzir alimentos para alimentar
uma população mundial que cresce em progressão geométrica.
As ações extrapolam a nossa capacidade de
julgar os efeitos da seca; mas, sim, de querer suplantar todas as limitações
tecnológicas, absorvendo e multiplicando, numa verdadeira cruzada cultural e
política. Devemos sim somar esforços e nos basearmos numa vontade
empreendedora, que juntas serão capazes de delinearem a montagem de uma
infraestrutura, de caráter intensivo, ocupando espaços, promovendo a inclusão
ocupacional, gerando renda, consolidando qualidade de vida com dignidade,
cidadania e sustentabilidade.
Sem dúvidas podemos citar o antagonismo que
vive o país, dotado de um imenso potencial hídrico. Neste mesmo momento a
Região Norte sofre com as inundações, via elevação do leito normal dos rios;
enquanto que a Região Nordeste se posta de joelhos implorando água, para a
nossa sobrevivência e qualidade de vida. Eis a solução que o Criador nos deixa
claro, transparente e cristalino. As obras da transposição do rio São Francisco
seria apenas o começo. Sabemos que podemos ainda contar com um dos seus
afluentes, no caso o rio Tocantins e até mesmo da própria ajuda do rio
Amazonas.
Que tal se conceber um consistente modelo de
recursos hídricos, a exemplo dos Estados Unidos, no estado da Califórnia ao
fazer a transposição do rio Colorado, transformando aquele Estado num dos
maiores celeiros de produção agrícola do mundo; do Chile que sistematizou as
águas da Cordilheira dos Andes; da Espanha que construiu aproximadamente oito
mil quilômetros de canais; de Israel que racionalizou as águas do rio Jordão e
Mar da Galiléia para se transformar numa luz de desenvolvimento sustentável.
Isto sim é que podemos citar como o exemplo
do conhecimento humano. Não adianta transferir para o Criador a
responsabilidade de modificar o que ele próprio construiu. Não adianta como já
o praticamos há muitos e muitos anos, fazendo procissão, rezando missa e
fazendo promessas ao glorioso São José, de modo que a sua interferência nos
traga chuva.
O período seco com água em abundância
modifica a geografia humana. Podemos sim tirar vantagens tanto comparativa
quanto competitiva que o fenômeno pode nos favorecer. Enquanto o europeu luta
contra o período da neve, que dura praticamente o mesmo período da seca e
sobrevive com dignidade; nós, os Nordestinos, praticamente num mesmo período,
sofrem as amarguras, as humilhações e as perdas que a seca provoca.
Isto sim, que poderíamos antever como sendo a
inteligência humana a serviço do próximo.
Os recursos hídricos de que carecemos
são materiais e, as nossas causas são materiais na essência da questão. Paremos
com esta história de que o Céu virá resolver os nossos problemas materiais.
Passarinho para beber tem que voar! Devemos sim, pedir a sua iluminação
coletiva de modo a que possamos juntos, reverter, como é possível, tal situação
de morte prematura. Podemos sim produzir durante os nove meses e alimentarmos o
mundo.
Outros condicionantes se fazem necessários.
Não podemos desconhecer a acessibilidade da energia com condições e preço
compatível com o nosso custo de produção; não podemos deixar ao largo a
vergonhosa taxa de juros cobrada a todos indistintamente; não devemos
esquecer-nos da famigerada taxação tributária que leva a morte todos os
esforços produtivos e mercadológicos; uma Legislação Trabalhista que trata o
pequeno agricultor como sendo um grande e exitoso empresário do petróleo;
enfim, de algo que possa concretizar e resolver tais discrepâncias.
O Criador é benevolente; é paciente e
criativo na esperança de que possamos nós próprios, tomar as decisões que se
fazem necessárias em tempo real e de caráter duradouro. Por fim afirmar que a
problemática da seca compete ao homem encontrar a solução que existe, em
benefício do próprio homem. Isto é respeito, é cidadania e além do mais é
Justiça Social.
* Luis Soares é
Engenheiro Agrônomo, produtor de
frutas irrigadas, no município de Baraúna,
Rio Grande do Norte, e Professor
aposentado da Universidade Federal Rural do Semiarido-UFERSA.
Nenhum comentário :
Postar um comentário