quarta-feira, 27 de março de 2013

Por Luis Soares*


ÁGUA É VIDA NO SEMIÁRIDO 

NORDESTINO
 

Mais uma vez se repete o drama da Seca nas Terras Nordestinas, mesmo considerando o avanço da Irrigação, das Ciências Sociais e Humanas; e, ainda das Tecnologias de Produção, que permite ao ser humano conviver harmoniosamente com tal adversidade climática, que vergonhosamente mancha a nossa história há quase quinhentos anos.

Jamais acontecerá a reversão tanto dos efeitos como das causas estruturais que humilham o povo nordestino, sem que o país reconheça e busque na velha geografia o fundamento e consolidação das ações que se fazem oportunas. As cidades sofrem é verdade; mas, o verdadeiro drama é sem dúvidas aquelas facilmente registrado no mundo rural e agrícola. Os efeitos são desastrosos para a sobrevivência humana com total destruição dos rebanhos.

Propositadamente não iremos recorrer aos Anuários Estatísticos ou Censo produzido e elaborado pelo IBGE; não iremos buscar o número de brasileiros, brasileiras, mães solteiras, jovens e crianças que teimam honrosamente em reafirmarem os seus vínculos com a terra e a produção agrícola; com os Índices de Desenvolvimento Humano; e, tantos outros indicadores, que sempre nos colocam na condição de miseráveis e dependentes crônicos.

Não cabe, portanto, mas devem ser lembrados os efeitos milenares das secas nas Terras Nordestinas; mas categoricamente afirmar nesta oportunidade, que a causa é de origem climática, envolvendo características químicas e físicas dos solos e a capacidade de aproveitamento e gerenciamento com sustentabilidade, de todos os nossos incomensuráveis e invejáveis recursos hídricos.

Devemos sim, citar exemplos de ilhas exitosas, como os projetos de irrigação em Petrolina/PE; no vale do Jaguaribe/CE; na Chapada do Apodi/RN; no vale do Gurgéia e Janaúba/MG; e, até mesmo no Platô de Neópolis/SE. A própria OEA (Organização dos Estados Americanos) nos seus mais diversos tratados, afirma, deixa claro e faz projeções para um futuro bem próximo, de que só e somente as terras situadas ao longo da linha do Equador serão capazes de produzir alimentos para alimentar uma população mundial que cresce em progressão geométrica.

As ações extrapolam a nossa capacidade de julgar os efeitos da seca; mas, sim, de querer suplantar todas as limitações tecnológicas, absorvendo e multiplicando, numa verdadeira cruzada cultural e política. Devemos sim somar esforços e nos basearmos numa vontade empreendedora, que juntas serão capazes de delinearem a montagem de uma infraestrutura, de caráter intensivo, ocupando espaços, promovendo a inclusão ocupacional, gerando renda, consolidando qualidade de vida com dignidade, cidadania e sustentabilidade.

Sem dúvidas podemos citar o antagonismo que vive o país, dotado de um imenso potencial hídrico. Neste mesmo momento a Região Norte sofre com as inundações, via elevação do leito normal dos rios; enquanto que a Região Nordeste se posta de joelhos implorando água, para a nossa sobrevivência e qualidade de vida. Eis a solução que o Criador nos deixa claro, transparente e cristalino. As obras da transposição do rio São Francisco seria apenas o começo. Sabemos que podemos ainda contar com um dos seus afluentes, no caso o rio Tocantins e até mesmo da própria ajuda do rio Amazonas.

Que tal se conceber um consistente modelo de recursos hídricos, a exemplo dos Estados Unidos, no estado da Califórnia ao fazer a transposição do rio Colorado, transformando aquele Estado num dos maiores celeiros de produção agrícola do mundo; do Chile que sistematizou as águas da Cordilheira dos Andes; da Espanha que construiu aproximadamente oito mil quilômetros de canais; de Israel que racionalizou as águas do rio Jordão e Mar da Galiléia para se transformar numa luz de desenvolvimento sustentável.

Isto sim é que podemos citar como o exemplo do conhecimento humano. Não adianta transferir para o Criador a responsabilidade de modificar o que ele próprio construiu. Não adianta como já o praticamos há muitos e muitos anos, fazendo procissão, rezando missa e fazendo promessas ao glorioso São José, de modo que a sua interferência nos traga chuva.

O período seco com água em abundância modifica a geografia humana. Podemos sim tirar vantagens tanto comparativa quanto competitiva que o fenômeno pode nos favorecer. Enquanto o europeu luta contra o período da neve, que dura praticamente o mesmo período da seca e sobrevive com dignidade; nós, os Nordestinos, praticamente num mesmo período, sofrem as amarguras, as humilhações e as perdas que a seca provoca.

Isto sim, que poderíamos antever como sendo a inteligência humana a serviço do próximo. 
Os recursos hídricos de que carecemos são materiais e, as nossas causas são materiais na essência da questão. Paremos com esta história de que o Céu virá resolver os nossos problemas materiais. Passarinho para beber tem que voar! Devemos sim, pedir a sua iluminação coletiva de modo a que possamos juntos, reverter, como é possível, tal situação de morte prematura. Podemos sim produzir durante os nove meses e alimentarmos o mundo.

Outros condicionantes se fazem necessários. Não podemos desconhecer a acessibilidade da energia com condições e preço compatível com o nosso custo de produção; não podemos deixar ao largo a vergonhosa taxa de juros cobrada a todos indistintamente; não devemos esquecer-nos da famigerada taxação tributária que leva a morte todos os esforços produtivos e mercadológicos; uma Legislação Trabalhista que trata o pequeno agricultor como sendo um grande e exitoso empresário do petróleo; enfim, de algo que possa concretizar e resolver tais discrepâncias.

O Criador é benevolente; é paciente e criativo na esperança de que possamos nós próprios, tomar as decisões que se fazem necessárias em tempo real e de caráter duradouro. Por fim afirmar que a problemática da seca compete ao homem encontrar a solução que existe, em benefício do próprio homem. Isto é respeito, é cidadania e além do mais é Justiça Social.

* Luis Soares é Engenheiro Agrônomo, produtor de frutas irrigadas, no município de Baraúna, Rio Grande do Norte,  e Professor aposentado da Universidade Federal Rural do Semiarido-UFERSA.

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