O DIA EM QUE A
BEATLEMANIA COMEÇOU
Faz cinquenta anos. Foi em 1963 que a paixão pelos Beatles, como uma febre,
alastrou-se pela Grã-Bretanha. No ano seguinte, cruzaria o Atlântico e atingiria
os Estados Unidos, de onde se espalharia para o mundo inteiro. Curioso que esse
fenômeno tem data e local de nascimento conhecidos. Foi no dia 13 de outubro de
1963. Local: O London Palladium, um teatro onde eram feitas as apresentações do
programa Val Parnell’s Sunday Night at the London Palladium, programa de TV
transmitido ao vivo e que era o grande sucesso das noites de domingo na TV
inglesa. O London Palladium pode ser comparado ao Carnegie Hall, em Nova Iorque,
sendo objeto de desejo de todo artista inglês. Entre outros, Frank Sinatra,
Laurence Olivier, Elizabeth Taylor, Judy Garland e Nat King Cole lá se
apresentaram.
A escolha dos Beatles para esse programa vinha no rastro dos seus primeiros
grandes sucessos, três números um em sequência: From me to you, Please please me
e She Loves you. Tocariam apenas quatro números, que já executavam à exaustão,
podendo tocá-los de olhos fechados. Mas a tradição do programa – e inglês não
larga uma tradição nem a pau – exigia que houvesse uma sessão de ensaios à
tarde, no dia da apresentação.
Foi aí que o inesperado começou. Havia um intervalo de três horas entre o
final do ensaio e a apresentação ao vivo e os Beatles foram para o seu hotel,
descansar e se vestir para o show. Brian Epstein, empresário dos Beatles, e Neil
Aspinall, amigo desde o tempo das vacas magras e que fazia diversos serviços
para eles, inclusive o de motorista, viram muitos adolescentes concentradas na
porta de entrada dos artistas. Resolveram, então, trazer o carro até a porta
principal do teatro, na Argyll Street. Mas a movimentação deles foi percebida
por alguns deles. Quando os Beatles apareceram no pórtico começaram a ser
perseguidos por cerca de duzentos adolescentes, aos berros, mas chegaram
rapidamente à segurança do carro, que arrancou rápido.
Os Beatles no London Palladium, com Neil Aspinall
Nas três horas do intervalo, mais adolescentes foram chegando, a polícia foi
acionada e, no rastro da polícia, a imprensa. Mesmo as estações de TV
concorrentes destacaram repórteres para cobrir o tumulto. O trânsito na
vizinhança ficou lento. Quando o programa terminou, o grupo ficou ainda algum
tempo no teatro, esperando as coisas acalmarem. Já estava escuro e tudo parecia
sereno quando eles saíram.
Foi quando o caos explodiu. Dois mil adolescentes, vindos de todos os lados,
convergindo em direção ao carro dos Beatles. Policiais no chão, capacetes no ar,
gritos estridentes, corpos em movimento e a contenção policial foi rompida em
instantes. Mas esses instantes deram ao Beatles tempo suficiente de entrar no
carro, que arrancou em direção à Oxford Street, onde ainda foi perseguido por
parte dos fãs. No dia seguinte, toda a imprensa registrava a ocorrência. Foi o
Daily Mirror que criou o neologismo que batizou o fenômeno e rodaria o mundo,
publicando na primeira página, em letras garrafais: BEATLEMANIA.
Tony Barrow, assessor de imprensa dos Beatles, afirmou que daquele dia em
diante, tudo mudou. Ele tinha assumido a função há seis meses, contratado por
Brian Epstein, o empresário do grupo. Seu trabalho, até então, tinha sido
telefonar para os jornais, buscando divulgá-los e levar nãos. “Agora, eram todos
os repórteres de jornais que vinham atrás de mim.” Desse dia em diante, ele
escolhia os jornalistas que entrevistariam os Beatles.
Capa do primeiro LP dos Beatles no Brasil
A apresentação seguinte dos Beatles em Londres foi três semanas depois, no
Prince of Wales Theatre. Com a presença da família real, um esquema de segurança
muito reforçado e ingressos bem mais caros, transcorreu sem tumultos. Ficou
famosa pela boutade de John Lennon, que, ao anunciar uma das músicas, disse: “Os
dos lugares baratos podem bater palmas.” E com o olhar em direção ao camarote
real: “Os demais, bastam chacoalhar as joias.”
A Inglaterra estava conquistada. A conquista da América viria com as
apresentações no Ed Sullivan Show, que ocorreriam em fevereiro de 1964. Mas essa
é outra história
Fonte: Blog do Djacir Dantas
Enviado por Togo Ferrário
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