REAJA EM OUTUBRO
É muito difícil recusar a hipótese de que a desgraça
que estamos vivendo é resultado natural de um sistema eleitoral
perverso, onde o cidadão vota em A e, contra sua vontade, elege X; os
distritos eleitorais são imensos, distanciam o eleitor do candidato,
elevam exponencialmente os custos das campanhas e levam o cidadão menos
esclarecido a transformar o seu voto numa “vantagem” pecuniária; a
falta de uma regra de barragem estimula a criação de uma multidão de
partidos, que só existem como sórdidas “bocas de aluguel” na eleição.
Hibernam nos interregnos eleitorais, à custa de boas
mesadas do Estado! O resultado final é, obviamente, uma amostra
enviesada do eleitorado, extraída pela ponderação realizada pela
natureza do financiamento, quer privado, quer público (sindicatos,
ONGs), ambos produtos do poder econômico.
A experiência brasileira mostra que precisamos de um sistema melhor. Que comece pelo controle efetivo do financiamento das campanhas eleitorais. Adote, talvez, alguma vertente de “parlamentarismo” e de eleições distritais com recall que permita uma coalizão majoritária a posteriori de não mais do que três partidos para realizar o nosso aggiornamento institucional.
Só ele nos porá de volta, definitivamente, nos trilhos do
desenvolvimento econômico, a preliminar necessária para a inclusão
social que reforça a coesão da sociedade que é a garantia final da
estabilidade política.
É claro que chamar a atenção para isso neste momento é
puro diversionismo. É tentar empurrar com a barriga os problemas de
curto prazo que, se não forem enfrentados com disposição, inteligência e
alguma paciência, acabarão pondo em risco a própria sobrevivência da
Nação como a conhecemos.
Os problemas das dívidas
estaduais já foram, felizmente, equacionados pelo governo interino. O
ministro Nelson Barbosa estava negociando uma reformulação da dívida
bastante razoável, mas exigia em contrapartida uma mudança do seu
comportamento (condicionalidades). As críticas vinham de “principistas”,
que rejeitam a mitigação do “pecado”, e dos deputados do PT, que
rejeitavam as condicionalidades! Quando Dilma permitiu
que a discussão fosse judicializada e transferida para o Supremo
Tribunal Federal, demonstrou que havia perdido completamente o seu
protagonismo e as condições de levar a bom termo a administração do
País. Por quê? Porque, explicitamente, perdera o controle sobre a sua já
diminuta bancada na Câmara.
No caso das dívidas municipais, ainda que
o problema quantitativo talvez seja menor, é relativamente mais grave.
Não se tem ainda um levantamento confiável feito pelos “devedores” (a
União e os estados), mas há algumas indicações do que não receberam os
“credores” (os municípios). As informações ainda dispersas vieram da
Confederação Nacional dos Municípios (CNM), presidida, desde tempos
imemoriais, pelo senhor Paulo Ziulkoski, conhecido por sua
assertividade, mas não pelo exagero ou pela falta à verdade.
A confederação levantou alguns aspectos
interessantes. Entre 2008 e 2014, quase 170 bilhões de reais deixaram de
entrar nos cofres dos municípios por decisões unilaterais e arbitrárias
da União, que desoneraram os IPI e o IR e reduziram o Fundo de
Participação dos Municípios, cujo número não para de crescer. O atraso
da União na complementação das despesas dos municípios, incluídos nos
fantásticos aumentos de “restos a pagar”, é maior do que 40 bilhões de
reais! E a dívida previdenciária dos municípios supera os 100 bilhões de
reais, sem a menor perspectiva de ser coberta com impostos cobrados dos
seus munícipes. Segundo a CNM, quase 600 municípios pagam, hoje,
salários com atraso de três a seis meses.
A situação é difícil, mas o início do conserto está em
nossas mãos. Em outubro de 2016, não vote nem no prefeito nem nos
vereadores do seu município sem conhecer, em profundidade, o que eles
fizeram das finanças municipais.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
Nenhum comentário :
Postar um comentário