quinta-feira, 14 de julho de 2016

A DÚVIDA IMOBILIZADORA
Fui convidado a conversar com duas dezenas de importantes investidores estrangeiros no Brasil, americanos, alemães, suecos e franceses, sobre as perspectivas da economia brasileira nos próximos cinco anos. Todos manifestaram que suas empresas confiaram e querem continuar a confiar na existência de enormes oportunidades de bons negócios num país com 206 milhões de habitantes, oitava economia do mundo, e que, ao menos aparentemente, tinha encontrado o caminho das relações amigáveis entre o setor privado e o governo, condição para o desenvolvimento econômico num regime de absoluta liberdade individual e garantia de segurança jurídica. Nenhum fez qualquer crítica à Operação Lava Jato. Alguns até a saudaram como a versão daquelas que, nos seus países, reduziram as ligações incestuosas entre empresas e governo.

O que não compreendem é como, depois de uma política econômica relativamente bem-sucedida, mas com uma taxa de inflação alta, entre 1995 e 2011, foi possível produzir a destruição de 2012 a 2016. Não creem existir explicação plausível para esse fato a não ser a deterioração gerada por um intervencionismo governamental mal informado e voluntarista, a partir de 2012. Nenhum deles leva a sério a narrativa de que isso foi efeito externo, pois todas as nações latino-americanas, onde eles também exercem suas atividades, saíram-se muito melhor do que o Brasil. Todos “sabem” que não há saída para tal tragédia, de queda de 7% do PIB em 2015-2016 e 11 milhões de desempregados, apenas com medidas de austeridade (necessárias, mas não suficientes) ou com aumento fácil dos impostos, porque constatam isso em seus países de origem. A solução é a conquista da confiança do setor privado no governo. Essa é a única forma de criar as “expectativas” de crescimento que, em condições adequadas, possam transformar-se, efetivamente, em novos investimentos e em aumento das exportações líquidas que produzirão a expansão da demanda interna, mitigarão o desemprego e aumentarão as receitas do governo.
A perspectiva atual de que se caminhará para a normalidade fiscal, que levará alguns anos, deverá criar as condições para a redução da taxa de juros real, o que estimulará os investimentos, reduzirá o custo da dívida pública e será mais um fator coadjuvante importante na estabilização da relação entre a dívida bruta e o PIB. Reconhecem que o programa do presidente interino, Michel Temer, é bom e foi bem recebido por boa parte da sociedade. Se o parlamentarismo de ocasião que montou continuar funcionando, os projetos poderão ser aprovados. Hoje é íntima a corresponsabilidade dos poderes Executivo e Legislativo. O arbítrio foi reduzido. Aprovada a lei do limite de gastos, o que se fizer abaixo dele precisará do apoio do Congresso, que é quem, afinal, estabelecerá as prioridades e os seus controles. Essa é a razão pela qual os empresários veem no governo interino uma possibilidade de encaminhamento da solução do déficit fiscal estrutural, o que exigirá, também, a aprovação de uma série de outras medidas: Previdência, desvinculação, livre negociação salarial etc.
Os potenciais investidores estrangeiros e, provavelmente, os nacionais, tanto na infraestrutura, em concessões ou em suas próprias atividades ou inovações, veem a situação atual com perplexidade. Não acreditam que, depois das provas materiais existentes e do “resultado geral da obra”, a presidenta possa recuperar qualquer protagonismo, mas não sabem por quanto tempo o processo de seu afastamento temporário poderá estender-se. Mesmo diante de tal quadro, creem que o “programa de Temer faz sentido”. A dúvida fundamental é: quem será o presidente efetivo no Natal? Sem isso não terão a menor condição de propor aos seus boards que tomem o risco de voltar a investir num país que insiste em destruir suas oportunidades de crescimento. “A única coisa que posso dizer ao meu board”, disse um deles, “é que não será Papai Noel, mas não creio que isso será o bastante para convencê-lo.”

Quanto mais cedo soubermos quem será o presidente do Brasil no Natal, mais cedo sairemos da encrenca em que nos metemos.

Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto 
 

Nenhum comentário :