A DÚVIDA IMOBILIZADORA
Fui convidado a conversar com duas dezenas de
importantes investidores estrangeiros no Brasil, americanos, alemães,
suecos e franceses, sobre as perspectivas da economia brasileira nos
próximos cinco anos. Todos manifestaram que suas empresas confiaram e
querem continuar a confiar na existência de enormes oportunidades de
bons negócios num país com 206 milhões de habitantes, oitava economia do
mundo, e que, ao menos aparentemente, tinha encontrado o caminho das
relações amigáveis entre o setor privado e o governo, condição para o
desenvolvimento econômico num regime de absoluta liberdade individual e
garantia de segurança jurídica. Nenhum fez qualquer crítica à Operação Lava Jato. Alguns até a saudaram como a versão daquelas que, nos seus países, reduziram as ligações incestuosas entre empresas e governo.
O que não compreendem é como, depois de
uma política econômica relativamente bem-sucedida, mas com uma taxa de
inflação alta, entre 1995 e 2011, foi possível produzir a destruição de
2012 a 2016. Não creem existir explicação plausível para esse fato a não
ser a deterioração gerada por um intervencionismo governamental mal
informado e voluntarista, a partir de 2012. Nenhum deles leva a sério a
narrativa de que isso foi efeito externo, pois todas as nações
latino-americanas, onde eles também exercem suas atividades, saíram-se
muito melhor do que o Brasil. Todos “sabem” que não há saída para tal
tragédia, de queda de 7% do PIB em 2015-2016 e 11 milhões de desempregados,
apenas com medidas de austeridade (necessárias, mas não suficientes) ou
com aumento fácil dos impostos, porque constatam isso em seus países de
origem. A solução é a conquista da confiança do setor privado no
governo. Essa é a única forma de criar as “expectativas” de crescimento
que, em condições adequadas, possam transformar-se, efetivamente, em
novos investimentos e em aumento das exportações líquidas que produzirão
a expansão da demanda interna, mitigarão o desemprego e aumentarão as
receitas do governo.
Os potenciais investidores estrangeiros
e, provavelmente, os nacionais, tanto na infraestrutura, em concessões
ou em suas próprias atividades ou inovações, veem a situação atual com perplexidade.
Não acreditam que, depois das provas materiais existentes e do
“resultado geral da obra”, a presidenta possa recuperar qualquer
protagonismo, mas não sabem por quanto tempo o processo de seu
afastamento temporário poderá estender-se. Mesmo diante de tal quadro,
creem que o “programa de Temer faz sentido”. A dúvida fundamental é:
quem será o presidente efetivo no Natal? Sem isso não terão a menor
condição de propor aos seus boards que tomem o risco de voltar a
investir num país que insiste em destruir suas oportunidades de
crescimento. “A única coisa que posso dizer ao meu board”, disse um deles, “é que não será Papai Noel, mas não creio que isso será o bastante para convencê-lo.”
Quanto mais cedo soubermos quem será o presidente do Brasil no Natal, mais cedo sairemos da encrenca em que nos metemos.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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