sábado, 30 de outubro de 2010

POR JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOS*

Mário Vargas Llosa, a guerra do  fim do mundo e o prêmio Nobel  de Literatura 2010

          Uma das obras mais conhecidas do peruano Mário Vargas Llosa tem o título de “A guerra do fim do mundo”, a qual, inspirada em “Os sertões – Campanha de Canudos”, de autoria de Euiclides da Cunha”, começou a ser escrita no ano de 1977, sendo concluída apenas no início da década de oitenta do século passado.

          O livro é uma ficção sobre a mais perversa repressão imposta pelo Estado Brasileiro à população do nosso país, pois no arraial do Belo Monte, a antiga Canudos, localizada às margens do rio Vaza-Barris, Estado da Bahia, Conselheiro e sua gente conseguiram transformar o chão adusto e ressequido do sertão nordestino na terra da promissão e da fartura.

          As conquistas auferidas pelo trabalho coletivo na “Canaã sertaneja” atingiram em cheio o orgulho e a prepotência das poderosas oligarquias sertanejas agro-pastoris, as quais foram prejudicadas consideravelmente com a fuga maciça de mão-de-obra semi-servil , marcada por relações pré-capitalistas, em direção ao arraial do Belo Monte.

          A vinculação histórica e histérica de Mário Vargas Llosa com a intransigente classe dominante Latino-Americana é algo que faz parte de forma indissociável da história de vida do reacionário e ultradireitista escritor peruano.

          Crítico contumaz da experiência socialista levada avante em Cuba, Mário Vargas Llosa tornou-se inimigo acérrimo do também escritor colombiano Gabriel Garcia Marquéz, admirador e amigo pessoal de Fidel Castro.

          O ideário de Mário Vargas Llosa, marcado pela vinculação com os valores da classe dominante que imemorialmente ditam regras de conduta na América latina, deixa transparecer o ódio contra as experiências libertárias do povo oprimido de nossa região em obras como “A guerra do fim do mundo”.

          No que tange a isso, um dos pontos culminantes encontra-se na falsidade sutilmente inserida em “A guerra do fim do mundo”, a qual apresenta Antônio Vicente Mendes Maciel como um radical caçador de negros fugidos, pois em nome da tão acalentada vinculação com os propósitos monárquicos, estaria o Conselheiro, conforme apresentação de Mário Vargas Llosa, transformado em Capitão-do-Mato, perseguindo seres humanos que conseguiam escapar da desgraça assegurada pela plantation, a qual articulava monocultura, latifúndio e escravismo.

          Essa leviandade é facilmente desmascarada, pois em Canudos a população era formada por mais de setenta por cento de negros e mestiços que encontraram por lá a felicidade negada por séculos de exploração e de aviltamento das condições humanas.

          O famoso comandante da guarda católica conselheirista, imortalizado na história por Pajeú, seu lugar de origem no sertão pernambucano, era negro retinto, bem como a maioria dos seus subordinados.

          Em “A guerra do fim do mundo”, Mário Vargas Llosa pecou contra a história e contra os valores que devem alicerçar a dignidade humana, pois a infeliz inserção do Conselheiro nas hostes malditas dos caçadores de negros fugidos, garante ao escritor peruano lugar perpétuo destinado ao julgamento implacável da história.

          No meu ponto de vista, defendo com veemência que a entrega do prêmio Nobel de Literatura do ano de 2010 teve o infeliz destaque de ter laureado um escritor que prima pela parcialidade e pela disseminação de mentiras absurdas, mesmo em obras ficcionais, sobre fatos históricos importantes através de temas como os que são tratados em “A guerra do fim do mundo”.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto IV da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.



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